Monday, April 28, 2025
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Fóssil da espécie mais antiga conhecida está em um museu brasileiro

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Um fóssil quase esquecido descoberto na coleção de um museu brasileiro revelou o espécime de formiga mais antigo conhecido pela ciência, de acordo com uma nova pesquisa. A formiga pré-histórica viveu entre os dinossauros há 113 milhões de anos — vários milhões de anos antes dos fósseis de formigas já encontrados — e possuía uma forma incomum de matar suas presas. Anderson Lepeco, pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, afirmou que encontrou o espécime “extraordinário” em setembro de 2024 enquanto examinava uma coleção de fósseis abrigada no museu.

O Museu de Zoologia possui uma das maiores coleções mundiais de insetos fossilizados e inclui espécimes da Formação Crato, no nordeste do Brasil, um depósito geológico conhecido por sua excepcional preservação de fósseis. Preservado em calcário, o inseto extinto recém-descrito é o que se chama de “formiga infernal”, membro de uma subfamília chamada Haidomyrmecinae que viveu durante o período Cretáceo, entre 66 e 145 milhões de anos atrás, e não tem relação com nenhuma formiga viva hoje. A espécie fossilizada, batizada de Vulcanidris cratensis, possuía mandíbulas em forma de foice que provavelmente usava para prender ou empalar presas.

“Fiquei chocado ao ver aquela projeção estranha na frente da cabeça desse inseto”, disse Lepeco, autor principal do estudo. “Outras formigas infernais já foram descritas com mandíbulas incomuns, mas sempre em espécimes de âmbar.” É raro encontrar insetos preservados em rochas. Outras formigas infernais do Cretáceo foram encontradas em âmbar da França e de Mianmar, mas datam de cerca de 99 milhões de anos atrás. O fato de uma formiga infernal ter vivido antes disso, no que hoje é o Brasil, significa que as formigas já estavam amplamente distribuídas pelo planeta em um estágio inicial de sua evolução, observaram os autores do estudo.

A descoberta esclarece como as formigas evoluíram durante o Cretáceo Inferior, uma época de mudanças significativas. Também apresenta características incomuns em espécies de formigas desse período que não sobreviveram à extinção em massa que encerrou a era dos dinossauros, disseram os pesquisadores. Hoje, as formigas são um dos grupos de insetos mais visíveis e abundantes do planeta, encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida, conforme destacou o estudo.

No entanto, as formigas nem sempre foram dominantes. Elas evoluíram durante o Jurássico Superior e o Cretáceo Inferior, há aproximadamente 145 milhões de anos, quando os ancestrais das formigas se separaram do mesmo grupo que daria origem a vespas e abelhas. Foi apenas após o impacto de um asteroide que condenou os dinossauros e outras espécies à extinção, há 66 milhões de anos, que as formigas se tornaram o inseto mais comum no registro fóssil, de acordo com o estudo.

O fóssil é “algo realmente importante”, disse o professor Phil Barden, que estuda a história evolutiva dos insetos. “Esta nova descoberta agora representa a formiga mais antiga conhecida, estendendo o registro fóssil de formigas em cerca de dez milhões de anos”, afirmou Barden, que não participou do estudo, por e-mail.

“Apesar de fósseis de formigas serem descritos desde o século XIX… até agora não estava claro se a ausência de formigas com mais de 100 milhões de anos se devia ao fato de elas não existirem ou simplesmente não estarem preservadas em depósitos onde as pessoas procuravam”, acrescentou.

A espécie recém-identificada também apresentava algumas características semelhantes às de vespas, indicativas da ancestralidade comum entre as duas criaturas. Por exemplo, as asas da formiga tinham muito mais veias do que as das formigas vivas, disse Lepeco.

Imagens de microtomografia computadorizada — uma técnica de imagem 3D que usa raios X para visualizar o interior da formiga — revelaram que o inseto estava intimamente relacionado a formigas infernais conhecidas apenas por fósseis em âmbar birmanês. O mais impressionante na formiga eram suas características anatômicas incomuns. Formigas modernas têm mandíbulas que se movem lateralmente — de um lado para o outro. No entanto, essa formiga possuía mandíbulas em forma de foice que corriam paralelas à cabeça e se projetavam para frente, perto dos olhos, observaram os pesquisadores no estudo.

“Poderia funcionar como uma espécie de empilhadeira, movendo-se para cima” enquanto a formiga caçava outros insetos extintos, explicou Lepeco por e-mail. “A morfologia intrincada sugere que mesmo essas primeiras formigas já haviam evoluído estratégias predatórias sofisticadas, muito diferentes das suas contrapartes modernas”, acrescentou Lepeco.

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