A linha de filmes originais da Netflix apresenta uma qualidade muito diversificada, desde obras dignas de Oscar de cineastas renomados como Jane Campion e Martin Scorsese até comédias românticas que mais parecem torturas à la “Laranja Mecânica”. No entanto, considerando o conjunto, incluindo uma coleção rotativa e aceitável de outros filmes, o catálogo da Netflix se mantém consistente. Afinal, por que não seria? Foi a Netflix que mudou a indústria para a era do streaming.
Nos próximos dias vamos trazer listas para te ajudar a escolher o que assistir ao invés de vagar sem rumo pelo mar de algoritmos. Trailers legendados e dublados.
Parte 1
Nada de Novo no Front
Dirigido por Edward Berger, “Nada de Novo no Front” é a terceira grande adaptação cinematográfica do icônico romance de Erich Maria Remarque, trazendo à tona a brutalidade da Primeira Guerra Mundial. O filme captura a essência da guerra com cenas arrebatadoras: ataques fúteis nas trincheiras, momentos de silêncio que precedem o caos e o sofrimento de jovens transformados em soldados. Em tempos recentes marcados pela pandemia e novos conflitos na Europa, a obra oferece um retrato mais sombrio e realista, afastando-se das comparações com filmes como “1917” de Sam Mendes ou a adaptação vencedora do Oscar de 1930. É um relato poderoso sobre os jovens que não retornam, explorando o custo humano da guerra de maneira visceral e atemporal.
Indústria Americana
Este documentário marcante, produzido por Barack e Michelle Obama, explora a complexa dinâmica entre trabalhadores americanos e chineses após a reabertura de uma fábrica de vidro automotivo em Ohio. Dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert, o filme vai além das questões econômicas, mergulhando nas dificuldades culturais e emocionais que surgem quando duas visões de mundo colidem. Sem cair em estereótipos ou xenofobia, “Indústria Americana” revela como mudanças globais afetam vidas locais, proporcionando um retrato íntimo e multifacetado de trabalhadores tentando se adaptar a novas realidades.
Atlantique
“Atlantique”, de Mati Diop, é uma narrativa intrigante ambientada na vibrante cidade de Dakar. No centro da história estão Souleiman, um trabalhador explorado sem salários há meses, e Ada, sua amante prometida a um homem rico e distante. Quando Souleiman desaparece ao tentar atravessar o Atlântico em busca de melhores oportunidades, o filme assume um tom misterioso e sobrenatural. Misturando crítica social com elementos espirituais, “Atlantique” reflete sobre desigualdade, amor e as consequências trágicas da migração forçada. Com imagens marcantes e uma atmosfera única, o filme transcende gêneros, oferecendo uma experiência profundamente emotiva.
Barry
Antes de se tornar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama era apenas Barry, um jovem universitário introspectivo e isolado tentando encontrar seu lugar no mundo. Neste drama biográfico dirigido por Vikram Gandhi, acompanhamos o futuro líder enquanto navega pelas complexidades raciais, culturais e emocionais de sua juventude em Nova York. Em vez de focar nos triunfos futuros, “Barry” se concentra em momentos modestos, mas significativos, que moldaram sua visão de mundo. O filme evita os clichês das cinebiografias, oferecendo uma reflexão sensível sobre identidade, pertencimento e autodescoberta.
A Balada de Buster Scruggs
Este filme dos irmãos Coen é uma coletânea de seis histórias ambientadas no Velho Oeste, cada uma explorando diferentes aspectos da vida, morte e moralidade. Do humor negro ao drama pungente, “A Balada de Buster Scruggs” transita habilmente entre tons e temas, apresentando personagens memoráveis como o cowboy cantor interpretado por Tim Blake Nelson e a protagonista trágica vivida por Zoe Kazan. Apesar de sua estrutura episódica, o filme se une como um todo coeso, oferecendo uma visão única do Oeste americano e do inescapável destino humano. Com diálogos brilhantes e uma direção impecável, é uma verdadeira obra-prima dos Coen.
Carol
“Carol”, de Todd Haynes, é uma história de amor delicada e profunda ambientada na Nova York dos anos 1950. Cate Blanchett interpreta a elegante Carol, uma mulher presa em um casamento sem amor, enquanto Rooney Mara dá vida à jovem Therese, que trabalha em uma loja de departamentos. Quando seus caminhos se cruzam, nasce uma conexão intensa e proibida que desafia as normas sociais da época. Baseado no romance “The Price Of Salt”, de Patricia Highsmith, o filme é uma celebração do desejo e da liberdade pessoal, enriquecido por atuações sublimes, direção primorosa e uma cinematografia deslumbrante.
Cam
Este thriller psicológico mergulha no universo das camgirls, explorando os desafios e os perigos do trabalho na internet. Madeline Brewer brilha no papel de Alice, uma jovem cujo canal é roubado por uma misteriosa dublê digital. “Cam” oferece uma visão complexa sobre identidade, privacidade e o impacto psicológico de viver online. Mais do que apenas um suspense, o filme aborda temas como autonomia, validação e os limites entre o real e o virtual, tornando-se uma das representações mais honestas e arrepiantes da vida digital moderna.
Alma de Cowboy
Dirigido por Ricky Staub, “Alma de Cowboy” explora a rica história dos cavaleiros negros urbanos da Filadélfia, uma tradição muitas vezes ignorada. Idris Elba interpreta Harp, um homem dedicado aos cavalos, enquanto Caleb McLaughlin vive Cole, seu filho adolescente enviado para passar o verão com ele. À medida que pai e filho tentam se reconectar, Cole é atraído pelo mundo da equitação urbana, descobrindo uma comunidade que oferece pertencimento e propósito. Inspirado em eventos reais, o filme é uma celebração emocionante de resiliência, identidade e herança cultural.
O Diabo de Cada Dia
Neste drama sombrio dirigido por Antonio Campos, um pequeno vilarejo no interior de Ohio torna-se palco de uma série de tragédias e abusos. Tom Holland interpreta Arvin, um jovem endurecido por uma vida cheia de perdas e violência. O filme aborda temas como fanatismo religioso, corrupção e desespero, com um elenco estelar que inclui Robert Pattinson, Bill Skarsgård e Riley Keough. Com uma narrativa complexa e inquietante, “O Diabo de Cada Dia” pinta um retrato perturbador de um lugar onde fé e pecado colidem de maneira devastadora.
Divinas
“Divinas”, de Houda Benyamina, é um retrato visceral e enérgico da juventude feminina nas periferias francesas. A história segue Dounia (Oulaya Amamra), uma adolescente ambiciosa que sonha com riqueza e poder, enquanto enfrenta os desafios de crescer em um ambiente hostil. Com uma narrativa que mistura humor, tragédia e crítica social, o filme destaca a força e a vulnerabilidade de suas protagonistas. A atuação de Amamra é eletrizante, tornando “Divinas” uma obra imperdível e profundamente impactante.
Dolemite é Meu Nome
Apesar de seu fluxo incessante de “filhos da mãe”, Dolemite é Meu Nome se revela surpreendentemente cativante. O filme retrata a vida de Rudy Ray Moore—comediante de stand-up e ícone do blaxploitation—mostrando sua jornada da obscuridade ao estrelato cult. Nascido no Arkansas, Moore encontrou fama ao mesclar as tradições da narrativa afro-americana com a energia irreverente dos anos 70 em seus ousados “discos de festa,” como Eat Out More Often. Como tributo a seu legado, o filme abraça sem pudor o humor atrevido que o definiu. Ao mesmo tempo, apresenta uma história inspiradora de um outsider que força Hollywood a reconhecê-lo. Embora simplifique sua complexa sexualidade, a obra acerta ao retratar Moore como um pioneiro que desafiou expectativas com pura determinação e criatividade.