18.5 C
Paraná
quarta-feira, janeiro 22, 2025
spot_img
InícioSegurançaIdosas japonesas condenadas preferem a prisão

Idosas japonesas condenadas preferem a prisão

spot_img

As salas estão repletas de residentes idosos, de mãos marcadas pelo tempo e costas encurvadas. Eles caminham lentamente pelos corredores, alguns apoiando-se em andadores. Funcionários auxiliam nos cuidados diários, ajudando-os a tomar banho, comer, andar e administrar os medicamentos.

Mas este não é um asilo – é a maior prisão feminina do Japão. A população carcerária reflete a realidade do envelhecimento da sociedade japonesa e o problema crônico da solidão. Segundo os guardas, a situação é tão grave que algumas detentas idosas preferem permanecer encarceradas a enfrentar a vida lá fora.

A Oficial da Prisão feminina de Tochigi disse que há pessoas que dizem que pagariam 20.000 ou 30.000 ienes (R$ 780-1650) por mês para poder viver aqui para sempre.

Dentro dos muros cor-de-rosa e dos corredores serenamente silenciosos da prisão, vive Akiyo, uma detenta de 81 anos, de cabelos grisalhos curtos e mãos cobertas por manchas. Ela cumpre pena por furtar alimentos. Akiyo acredita que tem uma vida mais estável atrás das grades do que livre.

As detentas de Tochigi trabalham nas fábricas da prisão. Para algumas, essa rotina é um alívio. Lá dentro, elas tem refeições garantidas, assistência médica gratuita e cuidados específicos para idosos – além de companhia, algo que dificilmente conseguem fora de lá.

Uma das detentas, Yoko, de 51 anos, foi presa por envolvimento com drogas cinco vezes nos últimos 25 anos. Ela relatou que a cada retorno dela, a população carcerária estava cada vez mais envelhecida. Yoko afirmou que há detentas que cometem crimes para serem presas de propósito quando acaba o dinheiro.

Akiyo conhece bem o peso da solidão e da pobreza. Aos 60 anos, ela foi condenada pela segunda vez pelo crime de furto de comida. Ela relatou que se tivesse uma vida confortável, com estabilidade financeira, jamais teria cometido o furto.

Quando cometeu a segunda infração, Akiyo vivia com uma pensão mínima, paga a cada dois meses. O que a levou a infringir a lei foi a falta de dinheiro e a espera de duas semanas até o próximo pagamento.

O filho dela, de 43 anos, que morava com ela antes de sua prisão, frequentemente dizia para ela que ela deveria desaparecer da vida dele. Akiyo deixou de se importar com o futuro, acreditando que seria melhor se estivesse morta.

O furto é o crime mais comum entre as detentas idosas. As estatísticas do governo apontam que, em 2022, mais de 80% das mulheres idosas encarceradas no Japão estavam presas por roubo.

Muitas roubam por necessidade – 20% da população japonesa com mais de 65 anos vive na pobreza, de acordo com a OCDE, acima da média de 14,2% dos 38 países-membros da organização. Outras roubam porque simplesmente não têm mais nada fora da prisão.

O Japão pode preencher essa lacuna?

Na Prisão Feminina de Tochigi, onde uma em cada cinco detentas é idosa, os serviços estão se adaptando para atender essa nova realidade.

No Japão, o número de presidiários com 65 anos ou mais quadruplicou entre 2003 e 2022, transformando o sistema carcerário.

A agente penitenciária de Tochigi, Shiranaga, reclama que parece mais um asilo do que uma prisão. Frequentemente as oficiais têm que trocar fraldas, ajudar no banho e alimentação das detentas.

Megumi, uma outra agente penitenciária acredita que uma das maiores dificuldades para ex-detentas é a falta de apoio ao deixarem a prisão. A agente afirma que mesmo depois de libertadas não tem quem queira cuidar delas. Algumas foram abandonadas pela família por causa da reincidência, outras já não tinham para onde ir.

O governo japonês reconheceu o problema e, em 2021, um estudo do Ministério do Bem-Estar revelou que detentas idosas que recebiam suporte após a prisão tinham menos chances de reincidir. Desde então, foram ampliados programas de apoio e centros comunitários para idosos vulneráveis. O Ministério da Justiça também lançou iniciativas para orientar detentas sobre vida independente, reabilitação e relações familiares. Porém, não está claro se essas medidas serão suficientes em um país com uma das maiores expectativas de vida e menores taxas de natalidade do mundo.

A população idosa cresce a um ritmo alarmante, e estima-se que o Japão precisará de 2,72 milhões de cuidadores até 2040. O governo japonês está incentivando o ingresso de mais profissionais na área e a importação de trabalhadores estrangeiros.

Enquanto isso, prisões como Tochigi passam a recrutar detentas com formação em enfermagem para auxiliar as outras presas idosas.

Akiyo deixou a prisão em outubro. Um mês antes da libertação, confessou que sentia vergonha e temia enfrentar o filho.

spot_img
spot_img
spot_img

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

hot news

Publicidade

ARTIGOS RELACIONADOS

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui