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Budismo pode resolver a crise ecológica e melhorar o clima?

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Existe uma saída para conter desastres naturais em um momento em que tragédias acontecem todos os dias, em diferentes locais do globo terrestre, seria o budismo um meio para modificar a visão devastadora do homem? O Seminário “Emergência Climática – Ecologia Curativa: Uma perspectiva budista sobre a crise ecológica” foi debatida na Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), com David Loy, sociólogo norte-americano, mestre zen, ativista e fundador do Centro de EcoDarma das Montanhas Rochosas (Rocky Mountain EcoDharma Center), no Colorado, EUA. Palestrante utilizou conceitos budistas para analisar a história ocidental e os problemas globais contemporâneos.

Para o deputado Goura Narataj (PDT), “o Budismo, assim como muitas religiões, acredita que o ser humano deve estar em harmonia com a Natureza. Atualmente, enfrentamos eventos climáticos extremos e mudanças climáticas que nos forçam a refletir profundamente sobre como tratamos a Terra, os rios, as florestas, nossos corpos e as relações entre as pessoas”.

Goura acrescentou: “Hoje, na Assembleia, discutimos a espiritualidade e sua relevância para um tema contemporâneo: as mudanças climáticas. Precisamos reavaliar nossos hábitos, comportamentos e estilo de vida. Vivemos de uma maneira que depreda a Natureza, sem reconhecer a relação entre nossas ações e o meio ambiente. Como disse Mahatma Gandhi, ‘você deve ser a mudança que quer ver no mundo’. Portanto, para transformar o mundo, devemos examinar nossas atitudes e ações, buscando formas de contribuir para essa mudança”.

Mudança de comportamento x mudanças climáticas

O seminário discutiu a ideia de que desastres como o ocorrido no Rio Grande do Sul são fortes indícios de que vivemos em uma situação de emergência climática, com eventos extremos se tornando mais comuns, não apenas no Brasil, mas globalmente. Por que tantas inundações, secas e temperaturas extremas estão ocorrendo? Como chegamos a esse ponto? Como enfrentaremos esses desafios? Essas foram as reflexões trazidas pelo mestre David Loy.

David Loy afirmou: “Devemos lembrar que a mudança climática é apenas um aspecto de uma crise ecológica maior, que inclui extinções em massa e poluições tóxicas no ar, solo e nossos corpos. Esta crise é, por isso, espiritual. Pensamos em tecnologia, economia ou política quando falamos de mudança climática, mas também devemos considerar nossa relação com a Terra. Você sente que estamos separados da Terra e que podemos explorá-la como quisermos? Isso não é verdade. Fazemos parte da Terra e temos responsabilidades para com ela”.

Quanto ao futuro e como preparar as próximas gerações para enfrentar o caos climático, Loy destacou: “A sensibilidade do Budismo é crucial. A transformação pessoal, possível através de práticas como a meditação, é essencial. Temos focado no crescimento econômico incessante, mas precisamos questionar esse caminho. Os jovens de hoje percebem que isso não é sustentável. Não é apenas uma crise climática; precisamos mudar nosso paradigma de produção incessante. Transformar nossa visão é necessário para também transformar o planeta”.

David Loy participa de diversos grupos e movimentos, incluindo o Extinction Rebellion e os Zen Peacemakers, e é autor do livro “Ecodarma”, que explora a interseção entre práticas budistas e desafios ambientais modernos. Em sua obra, Loy apresenta o conceito de Ecosatva, que conecta os ensinamentos do darma às urgências da crise ecológica atual, demonstrando que desenvolvimento pessoal, espiritual e social estão interligados. Ele escreve: “O engajamento no mundo é a manifestação do nosso despertar individual, e práticas contemplativas como a meditação fundamentam nosso ativismo, transformando-o em um caminho espiritual”.

Uma nova atitude sobre a vida

A diretora da Escola Design Ao Vivo, coordenadora do programa de ecodesign, diretora do Instituto Nhandecy, coordenadora de projetos sociais na OSC Coletivo Inclusão e tutora do CEBB Sukhavati/Quatro Barras, senhora Bernadete Brandão participou do seminário e pontuou sobre as questões do design voltado para pessoas e como ferramenta de transformação. “Nessas situações de catástrofes, em primeiro lugar, deveríamos aprender a lidar com a emergência. Nos apercebemos como seres humanos incapazes de lidar com situações caóticas. Ou ficamos muito, muito nervosos e com uma compaixão aflorada quando vemos irmãos, primos, amigos em situações vulneráveis. Então esse é o primeiro ponto, precisamos aprender a lidar com isso. O segundo ponto, que eu acho que é anterior, deveria ter sido feito antes um trabalho de casa, a compreensão sobre a questão, nesse caso, do clima, sobre o que nós estamos passando hoje. O que tem sido construído durante esse século e o que é a nossa parte individual e coletiva nisso. É preciso um outro modo de fazer as coisas”.

“Temos que trabalhar com esse nível de atitude, de consciência de um lado, e de ferramentas de outro lado. É aí que tem sido meu trabalho. Precisamos repensar a forma como estruturamos as nossas cidades. E não somente o urbano, as moradias, repensar as nossas roupas, a nossa alimentação, nossa saúde, enfim, é todo um modo de pensar o mundo que vivemos, mudar essa mentalidade. É um outro tipo de pensamento, é um outro tipo de escola, de ensino e de aprender sobre como nos relacionamos”, concluiu a professora Bernadete.

Para o professor e pesquisador em energia limpa e construções sustentáveis da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), doutor Eloy Casagrande Júnior, “nós estamos falando da maior ameaça à vida no planeta, não só à vida da espécie humana, mas de todas as espécies. Então, tem um sentido espiritual em tudo isso. Nós nunca enfrentamos uma situação como essa de agora, é tanta interferência que a espécie humana causou no meio ambiente que certamente precisamos rever a nossa própria existência. Não se pode mais negar dados científicos, o negacionismo não tem mais espaço. A realidade climática está aí escancarada na nossa frente, como o caso do Rio Grande do Sul. Precisamos urgentemente que medidas práticas sejam implementadas. E essas medidas passam por mudanças de hábito de consumo, mudanças de modelo de desenvolvimento, mudanças como a gente planeja nossas cidades, como nós nos preparamos para os problemas que vêm aí. Aliás, tem um novo termo que a gente está usando agora no meio científico, que nem é crise climática, nem é mudança climática e nem é emergência climática, é resistência climática”.

No seminário a mesa de autoridades ficou composta pelo proponente e coordenador do evento, deputado Goura (PDT), o sociólogo e escritor, mestre zen David Loy; professor da UTFPR, Eloy Casagrande Jr.; doutora em Epistemologia Ambiental, doutora Yamina Micaela Sammarco; diretora do Instituto Nhandecy, professora Bernadete Brandão e fundadora do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologia e Meio Ambiente da UTFPR, professora Libia Patrícia.

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