Apesar de os seres humanos passarem a maior parte de suas vidas em terra firme, 71% da superfície do nosso planeta é coberta por água. Esse vasto ecossistema aquático abriga uma infinidade de criaturas, muitas das quais permanecem completamente desconhecidas para a ciência.
Uma das mais fascinantes e enigmáticas dessas criaturas marinhas é o calamar colossal (Mesonychoteuthis hamiltoni). Quando totalmente desenvolvido, esse gigantesco cefalópode pode atingir o comprimento de um ônibus e pesar quase meia tonelada.
Acredita-se que os calamares colossais habitem as profundezas geladas do Oceano Antártico, na região do Antártico. Porém, mesmo sendo o maior invertebrado do planeta, essa espécie nunca foi observada em seu habitat natural. Os cientistas só conseguem estudá-los de perto quando exemplares acabam acidentalmente capturados nas redes de arrastão.
No entanto, um novo tipo de pesquisa oceanográfica parece ter feito uma descoberta emocionante no ano passado. Durante uma de suas quatro expedições à Antártida entre dezembro de 2022 e março de 2023, uma equipe internacional de pesquisadores e a organização sem fins lucrativos Kolossal aparentemente se depararam com um calamar colossal juvenil.
A abordagem inovadora consistiu em equipar um navio de turismo polar, o Ocean Endeavor, com uma câmera subaquática de profundidade. Felizmente, as imagens foram divulgadas e rapidamente compartilhadas no YouTube (confira).
“A Antártida passa por mudanças rápidas e complexas, então é crucial entender melhor o impacto nos ecossistemas oceânicos”, explicou a equipe Kolossal em um artigo detalhando o método. “Os altos custos e desafios logísticos limitam pesquisas científicas na região. No entanto, a indústria do turismo antártico cresce rapidamente, então a colaboração com empresas possibilita acesso valioso.”
Embora aproveitar navios turísticos para exploração marinha seja uma solução engenhosa, obter filmagens comprovadas de um calamar colossal continua sendo um feito raro. Mesmo o breve vídeo do espécime não está confirmado, pois pode ter captado um calamar-vidro adulto (Galiteuthis glacialis) ou até uma espécie totalmente desconhecida. As imagens estão sendo revisadas por especialistas, mas provavelmente nunca se saberá ao certo. Porém, como qualquer filmagem de lulas no Oceano Antártico é muito rara, esse material já é uma grande vitória para biólogos marinhos que estudam esses animais enigmáticos.
“As duas espécies de Cranchiidae conhecidas na Antártida são Galiteuthis glacialis e Mesonychoteuthis hamiltoni”, explicou Aaron Evans, que analisa as imagens. “O calamar filmado pode pertencer a diferentes estágios de vida dessas espécies – e é um exemplo emocionante de comportamento selvagem desses animais, pois não existem registros em vídeo anteriores no ambiente natural.”
Apesar do objetivo declarado da equipe ser filmar um calamar colossal adulto em seu hábitat, as câmeras registraram quase 80 espécies durante a expedição, incluindo enormes esponjas vulcânicas, estrelas-do-mar antárticas e diversos outros invertebrados marinhos.
Por enquanto, a maior espécie invertebrada do mundo continua sendo um dos maiores mistérios do reino animal. Mas à medida que biólogos marinhos se unem a embarcações turísticas para explorar os oceanos, algumas das maiores incógnitas sobre nosso planeta aquático podem lentamente ser desvendadas.