Pesquisadores recorrem à modelagem química para investigar se as luas geladas do nosso Sistema Solar possuem condições para abrigar vida — vida microbiana, para ser mais específico.
Modelos químicos são ferramentas essenciais para compreender os fatores que podem sustentar a vida como a conhecemos em outros planetas. Eles simulam aspectos como clima, ambientes interestelares, biossinaturas (indicadores químicos de vida) e processos químicos em potencial. Mas o que realmente define se algum lugar é habitável? Uma utopia azul ou apenas o mínimo necessário para a vida?
Charity Phillips-Lander, cientista do Southwest Research Institute (SwRI), está explorando como a modelagem química pode ajudar a caracterizar o papel de ambientes extremos na sustentação da vida microbiana.
“A questão da habitabilidade envolve restringir os fatores ambientais que tornam um local mais propício à vida, em vez de inóspito”, explicou Phillips-Lander. “A maioria dos softwares de modelagem geoquímica não inclui compostos orgânicos [moléculas baseadas em carbono] nas condições esperadas em mundos oceânicos. Por isso, eu não conseguia modelar o que estava observando em laboratório ao estudar luas geladas como Europa e Encélado.”
Desenvolvendo novas ferramentas de modelagem
Para superar essas limitações, Phillips-Lander e seu colega Florent Bocher criaram um software próprio. Eles o usaram para simular a formação de poros de gelo dopados com compostos orgânicos — estruturas de gelo que interagem com moléculas orgânicas em níveis microscópicos — e estudar como essas formações se comportam em ambientes extremos.
Esse fenômeno também ocorre na Terra, especialmente em regiões polares ou em geleiras, quando o gelo passa por processos como congelamento, degelo ou sublimação, criando estruturas porosas que podem capturar moléculas orgânicas.
Nos laboratórios, cientistas recriam “gelo dopado com orgânicos” para investigar como essas formações podem surgir em outros mundos. Eles simulam condições como variações de temperatura, pressão e radiação cósmica para entender se essas estruturas poderiam existir em ambientes extraterrestres.
Ao combinar observações laboratoriais com modelos computacionais, os pesquisadores obtêm informações valiosas sobre o comportamento do gelo fora da Terra e avaliam seu potencial para suportar reações químicas ou até mesmo formas primitivas de vida.
“Com melhorias, essa ferramenta poderá oferecer muitas informações sobre mundos oceânicos”, disse Bocher. “Saber a composição química é útil, mas é ainda mais importante entender quais compostos estão presentes e em quais fases químicas.”
O foco em Encélado
Os esforços atuais estão voltados para aprimorar o modelo de forma a replicar com maior precisão as condições encontradas em mundos distantes, como Encélado, a lua coberta de gelo que orbita Saturno.
Encélado desperta grande interesse porque se acredita que possua um oceano subsuperficial sob sua crosta gelada, um ambiente que pode ser capaz de abrigar vida microbiana. Melhorar os modelos permitirá que os pesquisadores simulem as condições únicas dessa lua e compreendam o comportamento de compostos orgânicos em tais ambientes.
“Este novo projeto nos ajudará a coletar os dados que faltam, integrá-los ao software de modelagem e construir modelos que forneçam maior contexto para as investigações laboratoriais dessas luas oceânicas”, explicou Phillips-Lander. “E, com sorte, também nos ajudarão a interpretar melhor o que veremos em missões futuras.”
Claro q são! Está cheiro de gente lá, não viram???