Na sexta-feira, o cirurgião Dr. Vivek Murthy, divulgou um comunicado alertando sobre a ligação direta entre o consumo de álcool e o aumento do risco de câncer. Ele fez uma série de recomendações.
“Embora as evidências científicas para essa conexão tenham crescido nas últimas quatro décadas, menos da metade da população reconhece o álcool como um fator de risco para câncer”, afirmou Murthy em comunicado. “Este alerta apresenta passos que todos podemos tomar para aumentar a conscientização sobre o risco do álcool em relação ao câncer e minimizar danos.”
O relatório destacou sete tipos de câncer mais frequentemente associados ao consumo de álcool, além de dados que relacionam a quantidade e frequência da ingestão ao risco de câncer ao longo da vida. As descobertas podem ser preocupantes até para consumidores ocasionais, mas ajudam a esclarecer onde os maiores riscos estão concentrados.
Quantidade segura de consumo
No que diz respeito a substâncias cancerígenas, tecnicamente não existe uma quantidade “segura” de consumo. Ainda assim, a lógica do “menos é melhor” se aplica.
Estudos de longa duração citados no comunicado mostraram que até mesmo uma dose diária de qualquer bebida alcoólica pode aumentar o risco de certos tipos de câncer entre 10% e 40%. O relatório apresentou os seguintes dados:
- Menos de uma dose por semana: risco absoluto de câncer de 16,5% em mulheres e 10% em homens.
- Uma dose por dia: risco absoluto de 19% em mulheres e 11,4% em homens.
- Duas doses por dia: risco absoluto de 21,8% em mulheres e 13,1% em homens.
“Infelizmente, não existe uma quantidade segura de álcool. Recomendamos beber o mínimo possível e, se possível, evitar totalmente”, afirmou o oncologista Dr. Suneel Kamath. Ele também destacou que limites anteriores, como sete doses semanais para mulheres e 14 para homens, já foram refutados, assim como supostos benefícios associados ao consumo moderado de vinho tinto.
Relação dose-resposta e padrão de consumo
Há uma relação direta entre a dose consumida e o risco. Cada dose adicional por dia ou semana aumenta o risco de diferentes tipos de câncer. “Se você consome apenas uma dose semanal, o aumento do risco é pequeno, mas ele ainda existe”, disse Kamath. Além disso, o padrão de consumo importa: distribuir doses ao longo da semana é melhor do que consumir várias de uma só vez.
Cânceres relacionados ao álcool
Embora o tabaco seja mais associado diretamente ao câncer, o álcool aumenta o risco de uma variedade maior de tipos de câncer. Segundo Kamath, o consumo de álcool está relacionado a 15 a 20 tipos de câncer, incluindo os de cabeça, pescoço, fígado, mama, cólon, língua e garganta.
Mecanismos de ação
O álcool pode causar câncer por meio de quatro principais mecanismos:
Conversão em acetaldeído: o álcool é metabolizado em acetaldeído, que pode se ligar ao DNA, danificá-lo e levar ao crescimento descontrolado de células cancerígenas.
Produção de espécies reativas de oxigênio: isso causa inflamação e danos ao DNA, proteínas e lipídios.
Alteração hormonal: o álcool pode aumentar os níveis de estrogênio, relacionado ao desenvolvimento de câncer de mama.
Facilitação da absorção de outros carcinógenos: substâncias como partículas de fumaça de tabaco podem ser mais facilmente absorvidas quando dissolvidas no álcool.
Como reduzir os riscos
A maneira mais eficaz de minimizar o risco de câncer associado ao álcool é a abstinência. Para aqueles que não querem ou não conseguem parar completamente, a recomendação é limitar a ingestão, evitar o consumo excessivo em curtos períodos e não combinar álcool com tabaco ou outras substâncias cancerígenas.
Por fim, alternativas sem álcool, como bebidas destiladas ou vinhos sem álcool, são bons substitutos. “Qualquer forma de reduzir o álcool na sua rotina faz diferença”, concluiu Kamath.