Você provavelmente conhece alguém afetado por alguma doença crônica, seja diabetes do tipo 2, alguma doença no coração ou uma doença autoimune. Médicos cientistas acreditam ter encontrado o maior culpado: o açúcar.
Uma recente pesquisa mostra que o consumo contínuo de altas quantidades de açúcar adicionado provoca “engarrafamentos” dentro das células, contribuindo para o desenvolvimento de várias doenças crônicas, segundo o biólogo Richard Young, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
O que foi descoberto?
Normalmente, o açúcar presente nos alimentos — saudáveis ou não — é transformado em combustível que dá energia ao corpo. No entanto, segundo Young, consumir refeições desequilibradas com muito açúcar, como beber dois refrigerantes junto com uma refeição, interrompe esse processo.
“Níveis elevados de açúcar no sangue fazem com que as células produzam oxigênio em excesso, o que acaba causando ‘queima’ dentro delas”, explicou Young, que também é membro do Whitehead Institute for Biomedical Research.
Se o oxigênio reativo atinge níveis muito altos dentro das células, ele danifica suas estruturas internas. Pesquisas anteriores já mostravam que pessoas com doenças crônicas possuem altos níveis dessas espécies reativas de oxigênio. Com o envelhecimento, a produção dessas substâncias aumenta naturalmente, o que explica a maior prevalência de doenças crônicas em idades mais avançadas.
No entanto, a conexão entre o estresse oxidativo e uma causa única para essas condições era desconhecida — até agora.
“Não percebíamos que havia um mecanismo tão simples”, afirmou Young.
Com o uso de tecnologia avançada de microscopia, que permite acompanhar moléculas de proteínas individuais dentro das células, sua equipe observou que, sob altos níveis de oxigênio reativo, cerca de metade das proteínas celulares ficam “presas” em engarrafamentos.
Surpreendentemente, as proteínas mais afetadas são as mesmas associadas a uma longa lista de doenças crônicas.
Repercussão e perspectivas
Outros especialistas consideram os achados promissores. Leonard Zon, professor da Harvard Medical School, destacou que o estudo traz novas possibilidades para compreender como o corpo detecta danos oxidativos. “Isso abre uma nova linha de pesquisa para entender como o corpo percebe e responde a esse dano, o que pode ter impactos significativos na saúde”, disse Zon.
Jonathon Ditlev, biólogo molecular, enfatizou o potencial do estudo: “Ele nos dá uma nova perspectiva para analisar células e tecidos doentes, com implicações para descobertas médicas.”
Próximos passos: reversão de doenças
Agora, o desafio é aplicar essas descobertas para tratar ou reverter doenças crônicas. Uma abordagem possível seria identificar alimentos, práticas ou medicamentos que possam agir como “controladores de tráfego” e restaurar a mobilidade proteica nas células.
Dietas equilibradas, com menos alimentos processados e açúcares adicionados, podem ajudar, especialmente em condições como neuropatias associadas ao diabetes. No entanto, Young ressalta que uma vez que uma doença crônica se desenvolve, retornar a um estado totalmente saudável é difícil.
Ainda assim, existe otimismo. Medicamentos já aprovados podem ser reutilizados para aliviar os “engarrafamentos” celulares, tornando o processo mais econômico e eficiente do que desenvolver novos remédios.
“Se estamos certos de que esse problema de mobilidade proteica está por trás de muitas doenças, isso abre caminho para o desenvolvimento de terapias mais eficazes”, concluiu Young.
Mudanças no comportamento
A conscientização sobre o impacto do excesso de açúcar também tem mudado o comportamento dos pesquisadores. “Saber o que acontece no meu corpo quando consumo açúcar em excesso tornou mais fácil evitá-lo”, admitiu Young.