A Terra é frequentemente chamada de “planeta oceânico”, com cerca de 71% de sua superfície coberta por água. Por outro lado, Vênus, nosso vizinho planetário mais próximo, muitas vezes recebe o título de “gêmeo da Terra” devido ao seu tamanho e composição rochosa semelhantes. No entanto, Vênus apresenta uma realidade muito diferente. Embora atualmente seja um planeta árido e abrasador, poderia ter sido coberto por oceanos no passado?
Pesquisas recentes indicam que não. Ao analisar a composição química da atmosfera de Vênus, cientistas inferiram o conteúdo de água no interior do planeta, um fator crucial para determinar se ele poderia ter sustentado oceanos. As descobertas mostram que Vênus possui um interior extremamente seco, consistente com a hipótese de que o planeta perdeu sua água durante uma fase inicial de sua história, quando sua superfície era composta por rocha derretida. Assim, tudo aponta para um passado sempre seco, sem evidências de que o planeta tenha abrigado oceanos ou condições habitáveis.
A água é essencial para a vida, e os resultados do estudo reforçam que Vênus nunca foi uma candidata viável para suportar vida como conhecemos. A pesquisa também questiona hipóteses anteriores que sugeriam a presença de um reservatório de água subterrâneo em Vênus, possivelmente um vestígio de um oceano perdido.
O vulcanismo oferece pistas importantes sobre a composição interior de planetas rochosos. Na Terra, os gases vulcânicos são predominantemente vapor de água, indicando um interior rico em água. No entanto, os cientistas descobriram que os gases vulcânicos de Vênus contêm no máximo 6% de vapor de água, em contraste marcante com a Terra. Este baixo teor de água indica que o interior de Vênus é extremamente seco, reforçando a conclusão de que ele nunca teve um passado temperado ou rico em água.
Tereza Constantinou, pesquisadora doutoranda da Universidade de Cambridge e autora principal do estudo, destacou: “A química da atmosfera de Vênus indica que as erupções vulcânicas liberam muito pouca água, sugerindo um interior planetário igualmente seco. Isso se alinha à hipótese de que Vênus teve uma superfície seca por um longo tempo e nunca foi habitável.”
Embora Vênus e Terra compartilhem tamanhos e densidades semelhantes, suas trajetórias evolutivas foram dramaticamente diferentes. As condições extremas da superfície de Vênus incluem pressões atmosféricas 90 vezes maiores que as da Terra, temperaturas de cerca de 465°C e nuvens de ácido sulfúrico, tornando-o um ambiente hostil. Em contraste, a Terra, rica em água, sustentou a vida por bilhões de anos.
Marte, o quarto planeta do sistema solar, conta uma história diferente. As características de sua superfície indicam que Marte teve um oceano de água líquida bilhões de anos atrás, e estudos recentes sugerem que ele ainda pode abrigar um vasto reservatório de água líquida abaixo de sua superfície. Essas descobertas ressaltam os destinos distintos dos planetas vizinhos do sistema solar.
Embora Vênus tenha sido menos estudado que Marte, missões futuras prometem mudar isso. A missão DAVINCI da NASA, programada para a década de 2030, investigará a atmosfera e a superfície de Vênus por meio de sobrevoos e uma sonda de descida. A missão EnVision da Agência Espacial Europeia, também planejada para a década de 2030, conduzirá mapeamento por radar e análises atmosféricas.
“Vênus oferece um laboratório natural para entender como a habitabilidade — ou a falta dela — evolui,” disse Constantinou. Essas explorações podem aprofundar nossa compreensão sobre por que Terra e Vênus, uma vez tão semelhantes, se tornaram mundos tão diferentes.