De férias em Foz do Iguaçu esta semana, o casal Joaquim e Neusa Martins foram a um grill. Ele pediu um clássico sanduíche de carne assada, enquanto ela optou por um queijo quente grelhado.
Ambos acreditam que suas escolhas seguiram padrões de gênero não por acaso. Segundo Neusa, de São José dos pinhais, mulheres tendem a abandonar mais a carne, preocupando-se com os impactos ambientais e em outras pessoas. “Não quero soar ofensiva, como se os homens se sentissem atacados”, disse ela, rindo. “Mas temos em nossa natureza cuidar mais dos outros. Eu mesma adorava carne, mas deixei de comê-la por razões climáticas.”
Um novo estudo reforça que as preferências alimentares realmente se dividem por gênero, de forma quase universal entre culturas. A pesquisa com mais de 28 mil pessoas em 23 países mostrou que, quanto mais desenvolvida e igualitária é uma nação, maior a diferença: os homens consomem mais carne, enquanto as mulheres a evitam mais.
Isso é relevante, pois cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa vêm da produção de alimentos de origem animal. Os autores do estudo acreditam que os resultados podem aprimorar estratégias para reduzir o consumo de carne e laticínios. Qualquer iniciativa para diminuir a ingestão de carne pelos homens teria, em média, maior impacto do que entre as mulheres.
Os cientistas ainda buscam entender as razões por trás dessa divisão. Uma teoria é que fatores evolutivos levaram homens a buscar mais proteínas da carne, em sua história como caçadores, enquanto mulheres evitavam possíveis contaminações que afetassem gestações. Outra é que normas sociais desde cedo moldam identidades de gênero e hábitos alimentares.
“Se estou com amigos homens e todos comem carne, deixar de comê-la pode gerar estranheza e atrapalhar a interação social”, ilustra Francisco Emidio, psicólogo social que abandonou a carne há 10 anos.
Lourdes Ribeiro diz que mulheres tendem a ficar mais abertas a reduzir o consumo de carne ao serem informadas sobre maus-tratos a animais. Já alguns homens reagem no sentido oposto, como um que lhe disse: “Acho que vocês querem me fazer comer menos carne, então vou comer mais”.
“A carne está ligada à identidade masculina, como a imagem do homem fazendo churrasco”, comenta Ribeiro. Ambos os pesquisadores reconhecem que mudar hábitos é um grande desafio. “Os homens são duros na queda”, conclui Ribeiro .
Para José Francisco Marques, outro cliente do estabelecimento, os homens realmente precisam diminuir o consumo de carne. “Mas, em geral, o que vejo é o contrário: somos carnívoros, os homens comem igual selvagens.”