Gerações mais jovens enfrentam um risco maior de alguns tipos de câncer, segundo uma nova pesquisa. Um estudo revelou que a Geração X e os milênicos têm mais chances de serem diagnosticados com 17 tipos de câncer, incluindo nove que haviam diminuído entre adultos mais velhos. Os pesquisadores ainda não sabem ao certo o motivo, mas acreditam que a obesidade seja uma das principais causas.
“O que está acontecendo com essas gerações pode ser considerado um indicativo das tendências futuras de câncer,” disse a epidemiologista de câncer e líder do estudo Hyuna Sung.
As taxas de câncer colorretal — um dos 17 tipos — vêm aumentando entre os jovens há décadas, um fenômeno preocupante que levou à investigação de outros tipos de câncer.
Sung e seus colegas analisaram dados de diagnósticos e mortalidade de câncer de dois bancos de dados. O estudo incluiu pessoas nascidas entre 1920 e 1990, diagnosticadas com câncer entre 2000 e 2019.
Os dados englobaram 34 tipos de câncer, quase 24 milhões de diagnósticos e mais de 7 milhões de mortes. Para obter uma visão mais clara das mudanças nas taxas de diagnóstico e mortalidade entre diferentes grupos, os pesquisadores agruparam as pessoas por ano de nascimento em intervalos de cinco anos. Por exemplo, os nascidos entre 1920 e 1924 foram considerados um único grupo.
Dezessete dos 34 tipos de câncer apresentaram aumento de incidência entre os jovens. O risco era de duas a três vezes maior em pessoas nascidas em 1990 para cânceres de pâncreas, rim e intestino delgado, em comparação com os nascidos em 1955. Diagnósticos de câncer de fígado em mulheres seguiram o mesmo padrão.
“Isso nos mostra que algo mudou para o grupo de indivíduos nascidos após esse período. Eles foram expostos a algum fator ambiental ou de estilo de vida que está levando a essa mudança,” afirmou a oncologista Dra. Andrea Cercek.
Após décadas de declínio, esses tipos de câncer começaram a aumentar novamente:
- Colorretal
- Endometrial
- Gástrico não-cardia
- Vesícula biliar
- Ovário
- Testicular
- Anal
- Câncer de mama receptor de estrogênio positivo
- Sarcoma de Kaposi relacionado ao HIV
Enquanto o estudo descobriu que a mortalidade diminuiu ou se manteve estável na maioria dos cânceres para gerações mais jovens, a taxa de mortalidade aumentou para cânceres endometrial, de duto biliar intra-hepático, vesícula biliar, colorretal e testicular, além do câncer de fígado entre mulheres.
O câncer endometrial foi o que mais cresceu tanto em diagnósticos quanto em mortalidade.
“Esse foi um achado alarmante,” disse Sung. “Embora muitas taxas de câncer estejam aumentando, não vemos necessariamente um aumento na mortalidade porque estamos tratando-os muito melhor do que antes.”
Muitos dos cânceres que estão em ascensão ainda são raros entre os jovens e, embora as taxas tenham aumentado, o número total de casos ainda é relativamente baixo.
“Isso está claramente acontecendo. Quase todos os oncologistas que conheço podem dizer que estão vendo isso,” disse o professor de Oncologia Otis Brawley. Apesar dos aumentos alarmantes, ele ressaltou que a maioria dos diagnósticos de câncer ainda ocorre em pessoas com mais de 50 anos.
“Nos anos 90, 10% das pessoas diagnosticadas com câncer de cólon tinham menos de 50 anos. Agora, é 20%, mas não devemos esquecer dos 80% que ainda têm mais de 50 anos,” acrescentou.
Examinar pessoas nascidas em um período específico pode fornecer pistas importantes sobre por que certos tipos de câncer estão aumentando entre gerações mais jovens.
“Todos esses cânceres estão ligados à epidemia de obesidade. Sabemos que essa é a segunda principal causa de câncer atualmente, atrás apenas do tabagismo,” disse Brawley.
Cerca de 20% dos diagnósticos de câncer estão relacionados ao excesso de peso. As taxas de obesidade no país aumentaram drasticamente após as décadas de 1960 e 1970. Em 1980, cerca de 13% dos adultos eram obesos, comparado a 34% em 2008. Entre as crianças, as taxas de obesidade cresceram de 5% para 17% no mesmo período.
Se a obesidade é uma das causas, provavelmente é uma entre vários fatores de estilo de vida e ambientais que estão levando ao aumento. Outros fatores poderiam incluir um comportamento mais sedentário, algo na alimentação ou na água, medicamentos comuns ou exposições químicas, disseram os especialistas.
O uso excessivo de antibióticos é outra possível ligação sob investigação. Os antibióticos são conhecidos por alterar o microbioma intestinal, o que foi relacionado ao câncer colorretal. Embora sejam necessários para tratar muitas infecções bacterianas, os antibióticos são frequentemente mal utilizados e tomados para problemas que não são bacterianos ou que não requerem antibióticos.
“A lista de coisas que estamos potencialmente investigando é muito longa,” disse Cercek. “Os antibióticos são um dos principais suspeitos nessa lista.”
Os pesquisadores ainda não entendem o que está por trás do aumento de certos tipos de câncer entre gerações mais jovens. Embora a obesidade e os antibióticos sejam suspeitos primários, “não podemos descartar outras exposições químicas ou agentes químicos,” afirmou Brawley.
