O músico e compositor paranaense Martinuci lança no dia 13 de dezembro seu quinto álbum, Canções do Desassossego, inspirado na obra do escritor português Fernando Pessoa. O trabalho abre com uma atmosfera luminosa e paradisíaca, retratando um narrador que convida sua amada a permanecer dormindo, talvez pressentindo tempos difíceis. Os versos iniciais resumem essa serenidade: “Dorme meu bem, manhã de céu azul, te quero tanto, não só teu corpo nu”.
A segunda faixa mantém a reflexão introspectiva, utilizando um texto de Pessoa: “todas as naus são naus de sonho, desde que esteja em nós o poder de as sonhar”. A composição ganha profundidade com um piano inspirado em Debussy e toques de slide em violão de aço.
Em Desverde, extraída do Livro do Desassossego, a mensagem assume um tom de alerta: “Não era ainda o desverde da folhagem ou o desprenderem-se das folhas”. O clima se transforma, indicando que o vibrante verão dá lugar aos primeiros sinais do outono, simbolizando a finitude inevitável das folhas e da vida.
A quarta faixa traz um emocionante dueto com a cantora Sarah Roeder, abordando perda e morte. É uma despedida sem palavras: “Last night she didn’t say goodbye, I thought about the moon, I thought about how soon she made me cry” (Na noite passada ela não me disse adeus, pensei sobre a lua, pensei sobre o quão rápido ela me fez chorar). A canção transcende o amor, tornando-se também uma reflexão sobre o luto e a fragilidade diante da fatalidade. O solo de violino de Guilherme Romanelli amplifica o temor e o desespero frente às ameaças atuais, como o risco nuclear.
A última faixa aborda o genocídio e a crise humanitária em Gaza, bem como a morte da verdade em tempos de manipulação: “Too much fog over the truth” (Muita névoa sobre a verdade). Essa faixa é a mais densa do álbum, marcada por um riff de trítono, energia bruta e distorção fuzz na guitarra de Martinuci.
O álbum encerra com um grito que mistura terror, raiva e esperança, mas também traz um convite: “We must build a dream” (Precisamos construir um sonho). Resgatando o espírito utópico, a obra ecoa Lennon: The dream is NOT over… não ainda.
Sobre a inspiração do álbum, Martinuci cita Marilena Chaui no livro Convite à Filosofia: “Embora vigília e sonho sejam diferentes, a vigília pode ser sentida como intolerável e insuportável e somos arrastados pelo desejo de ficar no sonho”. Para o artista, a imaginação e o sonho são formas de recriar a realidade e descrever tanto este álbum quanto sua trajetória artística.
Data de lançamento: 13 de dezembro de 2024, disponível em todas as plataformas digitais.
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