Quando o gelo gira no fundo do copo, pode ser tentador e até satisfatório mastigá-lo. No entanto, há uma grande diferença entre triturar um cubo ocasionalmente e desenvolver o hábito de mastigar gelo.
Mastigar gelo pode ser prejudicial para os dentes e, segundo especialistas, também pode indicar problemas de saúde física e mental. Aqui está o que você deve saber antes de ceder à tentação de mastigar gelo.
Por que as pessoas mastigam gelo?
Existem muitos motivos porque alguém mastigaria gelo. Para alguns, é apenas um hábito casual. No entanto, o desejo frequente e intenso de mastigar gelo geralmente é um sinal de que algo não está bem com a saúde.
“O desejo por gelo é uma forma de pica, que consiste na ingestão de substâncias não nutritivas”, explica a Dra. Sarah Boutwell. Outros exemplos de pica incluem o consumo de terra, amido ou argila. Quando o gelo é o foco do consumo, a condição é chamada de pagofagia.
Embora não haja dados precisos sobre a prevalência da pagofagia, sabe-se que pode ser comum, mas raramente relatada. Esse desejo pode indicar anemia por deficiência de ferro, embora as razões para isso ainda não estejam totalmente esclarecidas. Acredita-se que haja uma liberação de dopamina associada ao comportamento, o que gera uma sensação de prazer ao mastigar gelo.
Mastigar gelo também pode ser uma ação compulsiva ou uma forma de aliviar o estresse. Em alguns casos, pode indicar transtornos alimentares, quando o gelo é usado como substituto de alimentos calóricos. “É importante entender a função desse comportamento”, destaca a professora Thea Gallagher.
Impactos de mastigar gelo nos dentes
Apesar de parecer inofensivo, mastigar gelo é prejudicial para a saúde bucal. “O gelo é uma substância muito dura, comparável a tentar morder um osso”, alerta o dentista Mark Wolff. Esse hábito pode causar pequenas fraturas nos dentes, que podem evoluir para danos maiores. Pessoas com obturações estão ainda mais suscetíveis a essas fraturas.
Além disso, mastigar gelo pode prejudicar a articulação temporomandibular (ATM), causando dor e, em casos extremos, danos permanentes. Segundo Wolff, não existe uma forma segura de mastigar gelo, pois os dentes não são ferramentas.
Como saber se o hábito é prejudicial?
Para avaliar se o hábito de mastigar gelo é inofensivo ou problemático, é importante considerar a frequência e a intensidade do comportamento. Se o hábito interfere na rotina diária ou se há uma preocupação constante sobre quando será possível mastigar gelo novamente, pode ser hora de buscar orientação médica.
“O pica costuma ser diagnosticado após um mês de consumo frequente de substâncias não alimentares”, explica Tegan Mansouri. Se o desejo por gelo vier acompanhado de sintomas como fadiga, dificuldade de concentração, mãos e pés frios, falta de ar ao realizar esforços ou dores de cabeça frequentes, recomenda-se procurar um médico imediatamente.
Boutwell enfatiza que não é motivo de preocupação mastigar gelo ocasionalmente. No entanto, se o hábito for diário, uma avaliação médica é aconselhável. Um médico pode solicitar exames de sangue para verificar deficiência de ferro, que costuma ser tratada com suplementos orais ou intravenosos.
Se o médico identificar uma causa psicológica para o hábito, a terapia cognitivo-comportamental pode ser eficaz para modificar padrões de pensamento e comportamento, ajudando o paciente a encontrar estratégias de enfrentamento mais saudáveis.
Por outro lado, se o hábito for ocasional, especialistas concordam que não há problema em mastigar gelo. “Um cubo de vez em quando não fará mal”, conclui Wolff.