Qualquer pessoa que tenha passado uma noite espantando ou se coçando por causa de mosquitos concorda: o isento cheira à desgraça. No entanto, um fator que chama atenção dos mosquitos é o nosso cheiro.
Um grupo de cientistas para tentar descobrir qual é o odor que mais atrai os moquistos, criou uma arena de teste do tamanho de uma pista de patinação e injetou cheiros de pessoas, a partir daí conseguiram identificar os vários produtos químicos que atraem esses insetos, conforme documentado em um relatório científico divulgado na sexta-feira.
Mosquitos são membros da família das moscas e normalmente consomem néctar como alimento. No entanto, uma refeição rica em proteínas é necessária para as fêmeas que se preparam para botar ovos: o sangue.
Na melhor das hipóteses, ser mordido resultará apenas em um inchaço vermelho e com coceira. De qualquer forma, as picadas de mosquito frequentemente se tornam perigosas, por causa dos parasitas e infecções que transmitem. A malária é uma dessas doenças que representa grande ameaça.
Parasitas microscópicos que vivem nos glóbulos vermelhos são a causa da malária, uma doença que se espalha pelo sangue. No momento em que um mosquito mordisca uma pessoa contaminada com malária , ele suga o parasita junto com o sangue. Depois de se instalar no estômago, o parasita “se desloca para os órgãos salivares e depois será cuspido de volta na pele de outro hospedeiro humano quando voltar a se alimentar”, disse o Dr. Conor McMeniman.
Telas nas janelas, ar condicionado e melhorias nos sistemas de drenagem que impedem o crescimento de larvas aquáticas de mosquitos ajudaram a segurar o avanço da malária no último século.
“A febre da selva na verdade representa mais de 600.000 mortes por ano em todo o mundo, principalmente em crianças com menos de 5 anos e, além disso, em mulheres grávidas”, disse McMeniman.
“Uma das razões para este estudo dar certo foi tentar realmente entender como os mosquitos transmissores da malária encontram os humanos”.
McMeniman, pesquisadores de pós-doutorado da Bloomberg, e os primeiros autores do estudo, Drs. Diego Giraldo e Stephanie Rankin-Turner se concentraram na espécie de mosquito Anopheles gambiae da África subsaariana. Eles colaboraram com o Fundo de Pesquisa Macha da Zâmbia, liderado pelo Dr. Edgar Simulundu, o diretor científico.
De acordo com McMeniman, “Estávamos realmente motivados para tentar desenvolver um sistema onde pudéssemos estudar o comportamento do mosquito da malária africana em um habitat natural que refletisse seu lar nativo na África”.
Além disso, os pesquisadores queriam comparar as preferências dos mosquitos por diferentes cheiros humanos, observar a capacidade dos insetos de rastrear cheiros a distâncias de 20 metros e estudá-los durante suas horas mais ativas, 22h às 2h.
Os pesquisadores montaram uma instalação com tela do tamanho de um rinque de patinação para ajudá-los a entender como os mosquitos transmissores da malária encontram os humanos. Julien Adam
Seis tendas cobriam o perímetro da instalação, onde os participantes do estudo dormiriam.
Longos tubos carregavam os aromas distintivos da respiração e do odor corporal dos participantes de suas tendas para a instalação principal, onde eram colocados em almofadas absorventes que eram aquecidas e iscadas com dióxido de carbono para se assemelhar a um ser humano dormindo.
Muitos mosquitos no escritório principal de 20 por 20 metros foram tratados com uma miscelânea de fragrâncias dos indivíduos em repouso. Câmeras infravermelhas acompanharam o desenvolvimento dos mosquitos até os diversos exemplares (Os mosquitos utilizados na revisão não estavam contaminados e não podiam chegar às pessoas repousando).
Muitas pessoas que foram a um piquenique concordam com as descobertas dos pesquisadores: em comparação com outras, algumas pessoas atraem mais mosquitos. Além disso, substâncias causadoras de odor responsáveis pela atração – ou falta dela – dos mosquitos foram descobertas por meio de análises químicas do ar da barraca.
Os ácidos carboxílicos no ar, como o ácido butírico, encontrado em queijos “fedorentos” como Limburger, atraíram mais os mosquitos. Esses ácidos carboxílicos geralmente são invisíveis para nós porque são produzidos por bactérias em nossa pele.
Enquanto os ácidos carboxílicos atraíam os mosquitos, outro produto químico derivado de plantas chamado eucaliptol parecia mantê-los afastados. Os pesquisadores suspeitaram que a dieta de um participante poderia estar relacionada a uma amostra com alta concentração de eucaliptol.
Simulundu disse que encontrar uma relação entre os sintéticos presentes no mau cheiro de vários indivíduos e o fascínio dos mosquitos por essas fragrâncias foi “extremamente intrigante e energizante”.
Segundo Simulundu, coautor do estudo, “essa descoberta abre caminhos para o desenvolvimento de iscas ou repelentes que podem ser usados em armadilhas para interromper o comportamento de busca por hospedeiros dos mosquitos e controlar os vetores da malária em regiões onde a doença é endêmica”.
Entusiasmo semelhante foi expresso pela Dra. Leslie Vosshall, neurobióloga, que não participou do estudo. Ela afirmou: “Eu acho que é um estudo muito emocionante.” Fora do laboratório, este é o primeiro experimento desse tipo em larga escala.
Vosshall estuda Zika e Chikungunya, outras duas espécies de mosquitos transmissores da dengue. Ela e seus colegas descobriram em um estudo publicado no ano passado que essa espécie de mosquito também busca o cheiro de ácidos carboxílicos produzidos por bactérias na pele humana. A maneira como essas duas espécies únicas respondem a sinais sintéticos comparativos é algo para se agradecer, ela disse, porque isso pode tornar mais fácil fazer anti-agentes ou armadilhas para mosquitos, não importa como você olhe.
A exploração provavelmente não terá ramificações rápidas para evitar mordidas de insetos em seu próximo churrasco. (Vosshall disse que, em qualquer caso, a limpeza com detergente sem perfume não elimina as fragrâncias normais que atraem os mosquitos.)
