Os médicos e enfermeiros não acreditaram que uma paciente negra estava com dificuldades para respirar. Há dois anos, a peciente de 61 anos, foi hospitalizada devido a um pico em sua pressão arterial. Ela sofre de várias doenças crônicas, incluindo insuficiência cardíaca, e utiliza um tanque de oxigênio em casa.
Porém, ao solicitar oxigênio suplementar durante sua internação, seu pedido foi negado. De acordo com a paciente, os resultados do oxímetro colocado no dedo indicavam erroneamente que ela estava recebendo oxigênio suficiente.
Esta paciente negra afirmou ter informado à equipe médica sobre estudos que mostram que esses dispositivos, que medem os níveis de oxigênio no sangue, podem ser menos precisos em pessoas com pele mais escura, dando a impressão de que esses pacientes estão mais saudáveis do que realmente estão.
A descrença enfrentada pela paciente em relação às leituras imprecisas dos oxímetros de pulso em pacientes negros não é um caso isolado.
“Falo sobre isso o tempo todo para médicos que deveriam conhecer a pesquisa, e eles sempre ficam surpresos”, disse o Dr. Hugh Cassiere. “Esse dispositivo possui desigualdades raciais embutidas que foram ignoradas por anos.” Cassiere também lidera um comitê de especialistas independentes para investigar o problema dos oxímetros de pulso. Os problemas desses dispositivos de medição são conhecidos há décadas.
Historicamente, as empresas que fabricam estes produtos não eram obrigadas a incluir um número de pessoas negras nos estudos sobre a eficácia dos oxímetros.
“Francamente, a forma como temos medido isso não tem sido consistente nem feita de maneira válida ou sistemática”, disse a Dra. Michelle Tarver.
Como funcionam os oxímetros
O método mais preciso para testar os níveis de oxigênio de uma pessoa é coletar sangue arterial através de uma punção no pulso. Esse procedimento é invasivo e doloroso, mas fornece informações essenciais sobre a função pulmonar do paciente e ajuda os médicos a decidir se ele deve ser hospitalizado ou receber oxigênio suplementar.
Os oxímetros surgiram nos anos 1980 como uma alternativa fácil e indolor. O dispositivo emite uma luz através da ponta do dedo para medir a quantidade de sangue oxigenado. Quanto mais luz for absorvida, melhor.
Contudo, essa luz também é absorvida pela melanina, o pigmento da pele. Assim, pessoas negras e pardas podem acabar com leituras artificialmente elevadas de oxigenação. Isso significa que um paciente pode estar com dificuldades para respirar, e o oxímetro indicando um nível normal.
O potencial para desigualdade racial nesses dispositivos foi identificado em um estudo publicado há 34 anos, mas que foi ignorado.
A descoberta
O Dr. Thomas Valley e a equipe dele voltaram a investigar essa discrepância em 2020, quando foram sobrecarregados com pacientes com Covid. A maioria dos casos mais graves eram com os negros.
“Percebemos que os números na tela dos oxímetros não correspondiam aos resultados dos exames de sangue arterial”, disse Valley. “Andávamos de quarto em quarto e notávamos que algo não estava certo.”
Inicialmente, pensaram que era um efeito da Covid. Mas meses depois, perceberam que não era um problema do vírus, e sim da cor da pele.
O estudo da equipe foi o mesmo que a peciente mencionou aos seus médicos.
Embora não haja uma ligação direta entre essas falhas e mortes por Covid, pesquisas indicam que pessoas negras tiveram maior risco de morrer por causa desta doença do que brancas.
Os impactos desses erros vão além da pandemia. Segundo Sarah Adie, as leituras erradas dos oxímetros podem impedir que pacientes negros se qualifiquem para tratamentos avançados, como transplantes cardíacos.
Valley publicou mais pesquisas confirmando que a maioria dos oxímetros possui viés contra pessoas de pele mais escura.
O problema é a pigmentação da pele?
A equipe do Dr. Michael Lipnick, está testando mais de 50 modelos de oxímetros para descobrir quais funcionam igualmente bem em todas as cores de pele. Os resultados até agora são variados.
O atraso nas soluções desagrada profissionais de saúde que tratam principalmente pacientes negros.
A clínica processou 13 fabricantes de oxímetros. Algumas empresas já concordaram em adicionar avisos sobre a imprecisão dos dispositivos para pessoas negras.
Enquanto isso, pacientes como a desta notícia continuam a depender desses aparelhos, mesmo sabendo das falhas.