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Porque cultura pop é tão aficcionada por zumbis?

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Nosso fascínio por zumbis antecede em muito ao The Walking Dead, tendo suas raízes na espiritualidade africana. Tribos do oeste africano, como os Aja do Benim e os Ewes de Gana, acreditavam que uma alma poderia ser capturada e usada mesmo após a morte. Com o tráfico transatlântico de escravos, essa mitologia se espalhou para a colônia caribenha francesa de Saint-Domingue, hoje conhecida como Haiti.

Após a Revolução Haitiana de 1804, a história dos zumbis integrou-se à religião Vodu. Segundo a crença haitiana, zumbis são mortos reavivados por xamãs e sacerdotes vodu. Curandeiros conhecidos como bokor administravam poderosas poções narcóticas para subjugar os mortos-vivos e fazê-los trabalhar como escravos nos campos. Essas narrativas cativaram soldados dos EUA durante a ocupação do Haiti no início dos anos 1900, que as levaram de volta ao país de origem destes invasores. Foi nesse ponto que o mito se encontrou com a realidade da economia de mercado.

No início do século 20, a cultura popular ocidental apropriou-se da história dos zumbis, desconsiderando seu contexto histórico e transformando-os em espetáculos sangrentos para entreter o público. Em livros como “Cannibal Cousins” (1934), zumbis eram descritos saindo de túmulos e devorando carne humana. No ano seguinte, “Voodoo Fire in Haiti” de Richard Loederer, apresentou um retrato igualmente repulsivo do Vodu, explorando costumes culturais “bizarros” de uma nação em desenvolvimento e repleto de referências a “selvagens” e “primitivos”.

O primeiro grande trabalho a explorar o zumbi foi “A Ilha Mágica” (1929) de William Seabrook, que documentou as experiências do escritor com rituais de vodu, incluindo beber sangue. Seabrook descreveu o zumbi como “um corpo humano sem alma, ainda morto, mas retirado do túmulo e animado por feitiçaria com uma semelhança mecânica da vida”.

Esses textos pseudo-antropológicos introduziram o zumbi folclórico na cultura popular americana, pronto para uma iminente revolução cultural com a chegada da era do entretenimento de massa.

Diretores criativos e visionários estavam expandindo os limites da moralidade e da estética aceitável, especialmente na era dos filmes de terror mudos, como “Nosferatu” (1922), que assustou o público sem usar diálogos. Com o lançamento de “Drácula” por Tod Browning nos anos 1930, o gênero de filmes de monstros ganhou destaque. Filmes como “A Múmia”, “Frankenstein” e a primeira versão colorida de “Dr. Jekyll e Mr. Hyde” aterrorizavam os espectadores.

Esse novo senso coletivo de medo cativou o público e a indústria do entretenimento percebeu, pelas receitas de bilheteria, que as pessoas são atraídas pelo mistério e pelo inexplicável. E o que poderia ser mais fascinante do que uma força etérea controlando os mortos-vivos?

Em 1932, Victor Halperin dirigiu “White Zombie”, estrelado por Bela Lugosi como o mestre vodu haitiano e Madge Bellamy como sua vítima, que cai sob seu feitiço. Baseado no livro de Seabrook, o filme trazia a tagline: “Ela não estava viva… Nem morta… Apenas um Zumbi Branco realizando os próprios desejos.” Com 67 minutos de duração, é considerado o primeiro longa-metragem de zumbi e deixou uma impressão duradoura em um jovem George A. Romero.

Nenhuma discussão sobre zumbis estaria completa sem mencionar Romero, o lendário diretor de terror de Nova York. Ele revolucionou o gênero com sua obra-prima de 1968, “A Noite dos Mortos-Vivos”, um dos filmes independentes mais bem-sucedidos de todos os tempos, arrecadando US$ 30 milhões globalmente — mais de 263 vezes seu orçamento original. Romero essencialmente reestruturou o mito haitiano, retratando os zumbis como semelhantes aos escravos mortos-vivos, mas com uma diferença crucial: a agência.

Os filmes de Romero, criados no contexto das mudanças sociais dos anos 1960, mostravam zumbis que não eram mais escravos de ninguém, mas possuíam livre-arbítrio, aparentemente criados por radiação. Com essa nova narrativa, centenas de zumbis podiam ser revividos rapidamente com apenas uma mordida, eliminando a necessidade de rituais longos e elaborados.

Com uma influência tão profunda no gênero, seria fácil demarcar o zumbi moderno como pré ou pós-Romero. O diretor é inegavelmente influente, mas vale notar que mais da metade dos 600 filmes de zumbi produzidos entre 1920 e 2017 foram feitos após 2007. Muito disso se deve a uma mudança cultural para o leste, particularmente na Coreia do Sul.

Entre 1950 e 1953, a Guerra da Coreia resultou na morte de aproximadamente 1,3 milhão de sul-coreanos. A cultura coreana foi profundamente impactada pela ocupação japonesa, que ajudou a popularizar a noção moderna de ‘han’, um sentimento de raiva, amargura ou tristeza, considerado único dos coreanos. Temas de suicídio e morte simbolizam esse sentimento ancestral de tristeza.

Isso pode ajudar a explicar por que a Coreia do Sul se destaca no gênero de horror, incluindo filmes de zumbis. Produções como “Ang-ma-reul bo-at-da”, “O Hospedeiro” e “A História de Duas Irmãs” incorporam esses temas emocionais profundos. Filmes como “Trem para Busan” (2016), que popularizou a ideia de zumbis corredores, e “The Wailing”, aclamado como um dos melhores filmes de zumbi da era moderna, estão abrindo novos caminhos. Além disso, a Coreia do Sul está ganhando destaque no mercado de streaming com séries como “Kingdom” e “All of Us Are Dead”.

Por que os zumbis continuam a nos fascinar? Desde sua introdução em Hollywood há quase um século, eles foram alterados, mal interpretados e politizados. A sobrevivência do zumbi pode ser atribuída à inventividade e à ignorância dos criadores. Além disso, muitos de nós gostamos de sentir medo. Em um filme de terror, podemos experimentar o medo de forma segura e desapegada. Certamente, o zumbi continuará a nos fascinar por muito tempo.

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