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quarta-feira, dezembro 11, 2024
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Porque é que anda tão quente ultimamente?

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As temperaturas globais subiram muito mais do que os cientistas previam nos últimos dois anos, levantando uma questão intrigante: haveria dinâmicas ocultas das mudanças climáticas por trás dessa mudança abrupta?

O ano passado foi o mais quente já registrado, e 2024 está a caminho de superar esse recorde. Mesmo considerando os efeitos esperados da poluição por gases de efeito estufa e do El Niño — um fenômeno natural que normalmente eleva as temperaturas —, os pesquisadores não conseguem explicar cerca de 0,2 graus Celsius do aquecimento observado em 2023.

Um novo estudo pode ter encontrado uma explicação: a cobertura de nuvens diminuiu nos últimos dois anos, permitindo que mais luz solar alcance e aqueça a superfície da Terra, em vez de ser refletida de volta ao espaço.

A pesquisa sugere que o declínio na albedo do planeta — termo usado para descrever a capacidade de refletir a radiação solar — é provavelmente responsável pela anomalia térmica de 2023.

“Isso explica o aumento adicional recente na radiação solar observada”, disse Helge Goessling, um dos autores do estudo e físico climático do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha.

Comportamentos esperados das nuvens em um mundo mais quente estão entre os aspectos mais difíceis de estudar e modelar no sistema climático. Compreender essas dinâmicas ajudará os cientistas a avaliar melhor a sensibilidade da Terra às emissões de gases de efeito estufa.

Se a redução na cobertura de nuvens baixas não for apenas uma variação temporária, isso pode significar que o aquecimento global está avançando ainda mais rápido do que o previsto.

“Não está claro até que ponto isso pode ser apenas uma variabilidade que voltará ao normal”, afirmou Goessling. “Mas isso aumenta as chances de um aquecimento maior do que o esperado.”

A pesquisa baseia-se em análises de modelos climáticos e dados de satélite da NASA sobre a refletividade terrestre. O estudo aponta três possíveis causas para a redução das nuvens baixas, mas não determina o peso de cada fator.

Uma possibilidade é que processos naturais estejam temporariamente fora do padrão, reduzindo a formação de nuvens. Por exemplo, a variabilidade oceânica pode estar aquecendo a superfície do mar mais do que o esperado, alterando a física da formação de nuvens.

Outra hipótese é que mudanças nas regulamentações de transporte marítimo estejam influenciando. Em 2020, a Organização Marítima Internacional limitou o teor de enxofre permitido nos combustíveis navais. A redução de partículas de enxofre na atmosfera pode ter diminuído a formação de nuvens marinhas, já que essas partículas atuam como núcleos de condensação.

Por fim, é possível que loops de retroalimentação ainda não identificados no sistema climático estejam reduzindo a cobertura de nuvens devido ao aquecimento global.

Se as últimas duas hipóteses forem confirmadas como principais fatores, isso indicaria que o clima é mais sensível à poluição humana do que se imaginava, aproximando ainda mais a humanidade de ultrapassar as metas de emissões estabelecidas pelos líderes mundiais. “Sensibilidade climática” refere-se ao aumento da temperatura global caso a concentração de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera dobre.

Ainda assim, muitas questões permanecem, segundo Zeke Hausfather, pesquisador climático da Berkeley Earth. “Ainda não sabemos com certeza se essas mudanças no comportamento das nuvens são apenas variabilidade de curto prazo ou se representam uma mudança contínua no sistema climático”, afirmou por e-mail.

A temperatura média da superfície terrestre e oceânica em 2023 foi cerca de 1,18 graus Celsius acima da média do século XX.

Os esforços globais para reduzir emissões de gases de efeito estufa continuam insuficientes. As projeções indicam que as temperaturas globais podem aumentar mais de 3 graus Celsius — bem acima do limite de 1,5 graus Celsius estabelecido no Acordo de Paris.

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