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Quando foi que começamos a digerir amido

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Muito antes de os humanos consumirem pães ou batatas fritas, nossos ancestrais já possuíam genes que ajudariam na digestão desses alimentos ricos em amido. Os genes de amilase são responsáveis pela produção de uma enzima presente na saliva e no intestino, fundamental para decompor o amido em açúcar. É por isso que, ao mastigar massa por tempo suficiente, ela começa a ter um gosto doce. A digestão do amido, um tipo de carboidrato, é essencial para a obtenção de energia dos alimentos.

Uma nova pesquisa sugere que o gene da amilase tem uma história evolutiva muito mais antiga do que se imaginava. O estudo encontrou evidências de que, há cerca de 800 mil anos, nossos ancestrais começaram a carregar múltiplas cópias desse gene.

“Isso antecede não apenas a agricultura, mas também as migrações humanas para fora da África”, afirmou o professor e coautor do estudo Omer Gokcumen.

O estudo também revelou a presença de múltiplas cópias do gene da amilase em neandertais e denisovanos, primos ancestrais dos humanos modernos. Até então, acreditava-se que a duplicação do gene havia começado com o advento da agricultura, cerca de 12 mil anos atrás.

Embora ainda não esteja claro qual era a função do gene da amilase na época em que esses ancestrais viviam, Gokcumen sugere que neandertais talvez incluíssem amidos em suas dietas predominantemente carnívoras.

Hoje, ele acrescenta, a amilase pode ajudar a explicar por que os alimentos ricos em amido são tão atraentes para nós. Alguns estudos indicam que populações com mais cópias desse gene tendem a consumir mais amido, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essa relação.

Peter Sudmant, professor assistente de biologia integrativa, publicou recentemente a pesquisa dele sobre o gene da amilase. Ele sugere que humanos adquiriram mais cópias desse gene com a chegada da agricultura na Europa, há 12 mil anos, adaptando-se melhor a dietas ricas em amido.

“Quando as pessoas começaram a consumir muito mais amido, provavelmente houve uma vantagem de sobrevivência para aqueles que possuíam mais genes de amilase”, comentou Sudmant.

Sobre o papel dos genes de amilase hoje, os cientistas ainda investigam se a alta quantidade desses genes é benéfica ou pode trazer riscos à saúde. Estudos sugerem que mais cópias do gene podem estar relacionadas a cáries, já que a enzima transforma amidos em açúcar.

Antes do desenvolvimento da agricultura, Sudmant pondera que o gene poderia não ter uma função específica. “Ele poderia estar presente sem uma finalidade. Nem tudo no nosso genoma tem um propósito… Algumas coisas simplesmente existem.”

Ambos os estudos recentes utilizaram uma tecnologia relativamente nova para analisar material genético de humanos antigos, chamada de sequenciamento de longa leitura, que permite a leitura completa de genomas, inclusive regiões antes difíceis de serem observadas. Isso proporcionou uma análise sem precedentes da região que contém os genes de amilase.

O estudo de Gokcumen analisou material genético de 68 humanos antigos, incluindo uma amostra de 45 mil anos da Sibéria e outra de 34 mil anos da Romênia. Já o estudo de Sudmant examinou centenas de genomas antigos.

“Conseguimos olhar de forma completa e abrangente para dezenas de indivíduos de diversas origens ancestrais”, disse Gokcumen. “E, ao fazer isso, começamos a reconstruir a história evolutiva.”

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