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Reforma ortográfica em debate

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A editora Bonijuris está lançando, em versão e-book, um livro pronto para polemizar. “Educação Lingüística. Aprenda a evitar erros, vícios e barbarismos da linguagem.” (586 páginas, 2022), do professor Arthur Virmond de Lacerda, confronta o acordo ortográfico de 1990, critica o excesso de barbarismos e os vícios recorrentes em nossa língua – a flor do Lácio, segundo o parnasiano Olavo Bilac. Com anúncios nas páginas iniciais e naquelas que intercalam os capítulos, a obra foi viabilizada comercialmente e pode ser baixada gratuitamente clicando no link hospedado na Amazon: https://livraria-bonijuris.s3.us-east-2.amazonaws.com/e-book/Educ_Linguistica.pdf.

Lacerda se apega, especialmente à abolição do trema, que toma como bandeira para expressar sua revolta contra a supressão do sinal gráfico que indicava a necessidade da pronúncia do “u” em determinados vocábulos. Não por acaso, aliás, e por exigência do autor, o título do livro traz a palavra “lingüística” grafada com trema. Lacerda quer fincar posição.

O desacordo do autor, entretanto, não se resume a isso. Ele discute a queda dos acentos diferenciais – em pára e pêlo, por exemplo – e se insurge contra a falta da dupla grafia “fato/facto” – palavra que pode dizer a mesma coisa no Brasil, mas não em Portugal onde “fato sem c” corresponde a terno (vestuário).

A confusão entre vocábulos é só uma gota no oceano que separa os países de língua lusófona. Lacerda, que fez o seu mestrado em História do Direito em Portugal, diz que o país assinou o acordo, mas nunca o respeitou. “Adotou-se a regras apenas no início de sua vigência, depois a antiga grafia foi sendo recuperada”.

Esta é a terceira reforma da língua portuguesa em pouco mais de meio século. Houve uma em 1943 e outra em 1971. A de 1990 prolongou sua vigência para 2009 e depois para 2016, quando passou a valer “oficialmente”. A discórdia, porém, permaneceu, o que basta para comprovar que Lacerda não prega solitário no deserto.

O autor concebeu a obra de 586 páginas em duas partes, subdivididas, por sua vez, em quatro capítulos. A primeira parte tem utilidade prática, é basicamente um espaço de consulta; a seguinte amplia-se em conceitos teóricos e artigos relacionados.

Na origem, “Educação Lingüística.” era uma apostila intitulada “Vícios de Linguagem”, que Lacerda distribuía a seus alunos do curso de direito a cada início de semestre. Ele revoltava-se com os títulos de dois sujeitos nos jornais e com os estrangeirismos adotados a granel em detrimento de equivalentes da língua portuguesa que explicam e informa no lugar de confundir. Exemplo recente é o do vocábulo em inglês “lockdown” usado durante a pandemia, que dizia pouco para a maioria dos brasileiros. Pois os jornais dele abusaram, quando seria fácil e prático substituí-lo em bom português: bastava dizer “confinamento obrigatório”.

Ainda sobre o trema, há dois exemplos que confirmam a tese de Lacerda. Em edição do Jornal Nacional, o âncora, ao se referir ao Parque Barigüi, que é nome próprio, confundiu-se e pronunciou “gui” sem o sinal gráfico. Pode ter passado despercebido para a maioria dos brasileiros, mas para os curitibanos, zelosos de seu patrimônio, doeu profundamente.

Em Belo Horizonte, ciosa de suas tradições, um bloco de carnaval aboliu o trema e o transformou em piada. O “Trema na Linguiça” desfila agora sem o sinal gráfico. E o duplo sentido faz a alegria dos foliões.

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