Quando Herman Pontzer começou a estudar o metabolismo dos Hadza, uma tribo de caçadores-coletores na Tanzânia, para um estudo de 2012, ele imaginou que eles queimassem calorias de forma impressionante. Sua rotina diária envolvia atividade quase constante—caminhar, correr, levantar e puxar objetos.
No entanto, quando Pontzer e seus colegas compararam o gasto energético diário dos Hadza, ajustado para o tamanho corporal, com o de trabalhadores de escritório sedentários, os números eram praticamente iguais.
“Isso foi surpreendente”, disse Pontzer, atualmente antropólogo evolucionista na Universidade Duke e autor do livro Burn (2021), sobre a ciência do metabolismo.
Essa descoberta inesperada levou Pontzer a propor uma nova teoria: o “modelo de gasto energético total limitado.” Segundo essa teoria, o corpo humano se adapta para manter o gasto calórico dentro de uma faixa estreita. Quando a atividade física aumenta, o corpo compensa reduzindo a energia gasta em outros processos, evitando que o gasto total de calorias aumente proporcionalmente.
“Observamos isso em estudos com pessoas altamente ativas, como corredores atravessando o país, e em pessoas muito sedentárias,” explicou Pontzer. “O gasto calórico acaba sendo praticamente o mesmo. Isso ajuda a explicar por que o exercício, embora excelente para a saúde, não é uma solução mágica para perder peso.”
O trabalho de Pontzer faz parte de um esforço mais amplo para desafiar suposições antigas sobre o metabolismo. À medida que discussões sobre calorias e controle de peso ganham destaque durante as festas de fim de ano, Pontzer compartilhou as descobertas sobre o metabolismo:
Perguntas e Respostas com Herman Pontzer
P: O metabolismo dos homens é mais rápido que o das mulheres?
R: Não.
P: O metabolismo desacelera na meia-idade?
R: Não muito.
P: Exercitar-se mais significa queimar mais calorias ao todo?
R: Não.
P: O que é exatamente o metabolismo?
R: É a soma de todo o trabalho realizado pelas 37 trilhões de células do seu corpo diariamente, medido em energia, ou calorias.
P: A maioria das pessoas acredita que o metabolismo atinge o pico na puberdade e desacelera na meia-idade. Isso é verdade?
R: Não totalmente. O pico de calorias queimadas em toda a vida ocorre na adolescência tardia. No entanto, quilo por quilo, as crianças de 3 e 4 anos têm os metabolismos mais rápidos. Suas células trabalham intensamente durante o crescimento e desenvolvimento, mas, devido ao tamanho pequeno, o gasto calórico total ainda é modesto.
O metabolismo permanece estável entre os 20 e 50 anos, quando ajustado para o tamanho corporal. Ele começa a diminuir ligeiramente após os 60 anos.
P: Se o metabolismo não desacelera muito na meia-idade, por que tantas pessoas ganham peso?
R: O ganho de peso nesse período geralmente se deve à dieta, e não ao metabolismo. Estresse e mudanças no estilo de vida podem levar a hábitos alimentares pouco saudáveis. O ganho de peso sazonal também é comum, especialmente durante as festas de fim de ano, e muitas pessoas não perdem totalmente os quilos extras.
P: Como o exercício afeta o gasto calórico?
R: O exercício aumenta temporariamente o gasto calórico, mas quando se torna rotina, o corpo se adapta. Ele redistribui energia de outros processos, mantendo o gasto calórico total estável. Isso não reduz os benefícios do exercício, que incluem redução da inflamação e melhora na resposta ao estresse, contribuindo para a saúde geral.
P: Alimentos ou suplementos podem acelerar o metabolismo?
R: Não. A composição da dieta—seja rica em carboidratos, pobre em gorduras, rica em proteínas, ou qualquer outra—não altera o gasto calórico diário.
P: E atividades mentais intensas? Elas queimam mais calorias?
R: O cérebro consome muita energia, queimando cerca de 300 calorias por dia—equivalente a correr 5 km. No entanto, isso é constante, independentemente de você estar pensando profundamente ou completamente relaxado.
P: Comer uma grande refeição acelera o metabolismo?
R: A digestão queima cerca de 10% das calorias consumidas, mas esse efeito é pequeno. Para evitar ganhar peso no feriado, é necessário comer menos, e não contar com o metabolismo para compensar.