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sexta-feira, novembro 22, 2024
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Rádio Estação Primeira fez a cabeça da geração anos 80

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O colunista Sergio Viralobos, do Hoje Mais, conta que há 22 anos a Rádio Estação Primeira de Curitiba saía do ar. A emissora foi a primeira rádio paranaense voltada ao Rock, e ao público alvo jovem A B. Foi também a primeira a tocar as bandas locais, como o Ídolos de Matinée, Beijo AA Força, Tessália, Pós Meridion, Bons Garotos Vão Para o Inferno, Blindagem, entre tantas outras. Era uma emoção pra gente ouvir músicas compostas por nós e nossos amigos rolando no rádio. E acabou porque estava em crise administrativa, e havia sido vendida para o Grupo Inepar, que na época estava comprando empresas de diversos segmentos e acabou se atrapalhando até chegar à falência. O slogan da Estação Primeira, na época, era “Uma rádio a frente do seu tempo”, frase que acabou se tornando realidade. Nos anos 1990 o mercado publicitário era pequeno, e não comportava uma rádio de público segmentado no rock. A emissora foi vendida por dificuldades econômicas, mas continuou na memória de seus fiéis ouvintes.

A inspiração para a criação da Estação Primeira veio de Niterói (RJ): a Fluminense FM, apelidada de “A Maldita”. Ela foi inaugurada em 1972 e na primeira década, transmitia corridas de cavalo. Em meados de 1981, a direção aceitou a reformulação da rádio, com a entrada da equipe formada pelos radialistas Amaury Santos e Sérgio Vasconcellos, comandados pelo jornalista Luiz Antonio Mello, todos à época beirando os 26/27 anos. De início, Mello seria responsável por apenas um programa, que teria o nome de Rock Alive, mas conseguiu não somente ser aprovado pela audiência, como a façanha de transformar a Fluminense em uma rádio 24 horas dedicada ao rock. Deram oportunidade para bandas novas que surgiam no cenário nacional, entre as quais “Os Paralamas do Sucesso”, “Barão Vermelho”,” Titãs”,”Legião Urbana”, etc, etc, e ajudaram a escrever um capítulo importante na história do rock brasileiro. Em 1982, tínhamos criado a “Contrabanda” e nosso empresário Fernando Tupan levou nossa fita cassete à “Maldita”, que tocou direto, por incrível que pareça. Tupan aprendeu ali que podíamos ter uma rádio do tipo em Curitiba e foi importante na história da Estação Primeira, como veremos adiante.

No dia 1º de março de 1982, às 6 horas, teve início uma mudança radical no meio radiofônico e musical brasileiro: a nova Fluminense FM entrou no ar, no dial 94.9 MHz, com uma locução exclusivamente feminina, sendo a locutora Selma Boiron a responsável pela inauguração da rádio. A emissora também tinha problemas financeiros e, depois de 1985, sofreu a concorrência não só da rádio universitária Estácio FM, como também de rádios pop como Rádio Cidade e Transamérica, que nos anos 80 colocaram inserções de rock na programação, além de alguns programas que imitavam o perfil da Fluminense FM.

Em 1990, a rádio vira rádio pop e permanece assim por um ano. Em 1991, volta para o rock, mas em vez de seguir a linha marcante dos anos 80, preferiu adotar uma influência da MTV que desnorteou muitas emissoras de rádio voltadas ao rock, além de causar a invasão de muitas rádios de pop convencional ou mesmo “populares” no segmento rock, sem ter qualquer identificação natural com o segmento. Essas rádios, puxadas pela 89 FM de São Paulo, adotavam uma programação que incluiu locução pop e repertório hit-parade de rock, aspectos nem sempre bem vistos pelo público roqueiro. O êxito comercial de várias dessas emissoras fez decair as rádios de rock originais, que tentaram competir com aquelas, influenciadas sobretudo pelo êxito comercial da 89 FM.

Em 30 de setembro de 1994, a Rádio Fluminense FM encerrou sua trajetória como rádio de rock, num irônico trocadilho com a frequência 94.9 (ano 94 e mês 9), dando lugar à primeira afiliada da Jovem Pan 2 FM no Rio de Janeiro, que durou até junho de 2000. Em meados de 2005 a rádio foi encerrada definitivamente, após o Grupo Fluminense fechar parceria com o Grupo Bandeirantes de Comunicação para o lançamento da BandNews FM Fluminense. Hoje o prefixo da Fluminense pertence a uma rádio evangélica.

Mas voltemos ao panorama de 1986, ano da criação da Estação Primeira pelo empresário Hélinho Pimentel. Achei este texto do jornalista Aramis Milarch sobre a chegada da nova emissora em 28 de setembro de 1986, publicado no jornal Estado do Paraná, em que ele faz uma análise brilhante do mercado de rádio da época:

Estação Primeira. Algo de novo no ar. É a esperança!

“Um novo prefixo entra no ar em outubro: Estação Primeira. Décima primeira FM a disputar um mercado cada vez mais competitivo, a nova emissora pretende atingir a classe A e o público jovem, “mas com um compromisso de verdade e qualidade”, como diz seu diretor, Hélio Pimentel, 30 anos, ex empresário do grupo “A Cor do Som” e do casal Baby Consuelo-Pepeu Gomes. Pertencente aos irmãos Carlos e Henrique do Rego Almeida, mais Hélio Pimentel (e por certo o prestígio nacional do superempresário Cecílio do Rego Almeida contou muito na conquista da concessão do canal), a Estação Primeira vai entrar no ar com moderno equipamento, boas instalações – na rua Oiapoque, 649 e uma programação que vem sendo cuidadosamente planejada – que irá desde as paradas de sucesso até uma hora de programação de música clássica, na madrugada.

xxx Na briga de foice pela conquista de ouvintes é necessário, mesmo, que uma nova emissora procure oferecer algo de inteligente e com qualidade. 90% dos prefixos FMs limitam-se a repetir o mesmo esquema que observa no Rio e São Paulo, das emissoras que conseguem maior audiência: música comercial da pior qualidade acompanhando as discutíveis e corrompidas “paradas de sucesso”, com disc-jockeys e locutores que parece terem uma produção em linha de montagem, tal a repetição das mesmas expressões e palavras. “A impressão que as pessoas mais inteligentes têm ao ouvir as FMs é de que os seus apresentadores imaginam que só há ouvintes de 15 a 22 anos, tal o volume de besteiras e abobrinhas que repetem exaustivamente “comentava, dia atrás, um dos mais veteranos radialistas do Paraná, Jamur Júnior, 50 anos, 35 de rádio e que, graças a inovação e a criatividade está fazendo seu próprio prefixo, a FM-Ilha do Mel, em Paranaguá, não só a mais ouvida no Litoral, como merecendo destaque junto às agências de publicidade que a tem sabido programar seus melhores horários. Em Curitiba, das dez FMs, apenas dois prefixos – FM Ouro Verde e FM Escala (ex-Apolo, ex-Emissora Paranaense) é que estão fazendo uma programação tolerável para quem tem mais de 30 anos e não totalmente colonizado em termos musicais. Assim estas duas emissoras apresentam a chamada programação soft, com música nacional e internacional da melhor qualidade, sem preconceitos de idade, pois, conforme o slogan cunhado pelo veterano Didiê Bettega (João Lydio Seiller Bettega, 54 anos, 36 de radiofonia), “saudade não tem idade”. A síndrome da juventude, na ilusão de que este segmento do mercado é o único capaz de garantir bom faturamento, faz com que a maior parte das emissoras em FM se recusem a programar centenas de excelentes artistas, simplesmente pelo preconceituoso pré-julgamento de que “eles não irão agradar”. Música instrumental, então, nem falar! Com raras exceções, os programadores e disc-jockeys fogem do que há de mais criativo na música instrumental, especialmente a brasileira, mas, em compensação, abrindo todos os espaços ao pop-rock internacional conduzindo, de uma forma subliminar, imensas faixas de audiência a consumirem apenas o lixo musical imposto pelas multinacionais do som.

xxx Neste mercado monótono e repetitivo, no qual falta quem se disponha a tratar o ouvinte com inteligência – a começar pela própria forma de anunciar a programação – uma nova emissora, como é o caso da FM Estação Primeira, que se disponha a trazer programas de boa qualidade, montados com textos e faixas selecionadas, terá condições de, em pouco tempo, conseguir um espaço especial. Não basta a simples preocupação de alcançar os primeiros lugares de audiência burra, mas, isto sim, obter uma faixa de poder aquisitivo, qualidade e que, realmente, faça do rádio uma opção de lazer e bom gosto. Poderia-se acrescentar também a palavra informação, mas, infelizmente, apesar do rádio ser o mais ágil dos veículos de comunicação, faltam prefixos que façam do bom e independente jornalismo o seu cavalo de batalha. Em São Paulo, a Jovem Pan, em AM, conseguiu um posicionamento único (e um faturamento extraordinário), graças ao jornalismo up to date que a caracteriza como emissora presente em qualquer acontecimento da cidade. O que não elimina sua programação musical, como o “programa do Zuza”, que garante ao jornalista e radialista Zuza Homem de Mello, 53 anos, o domínio completo da audiência no horário das 17 às 18h30min. Em Curitiba, a maioria limita-se a cumprir a lei que obriga a reservar o mínimo de 70 minutos ao jornalismo. Infelizmente, grande parte deste noticiário é feito ainda na base da gilete press, quando poderia ser dinâmico, com reportagens ao vivo e que daria, sem dúvida, respostas comerciais a médio prazo. A alegação, entretanto, dos responsáveis é uma só: o investimento que a manutenção de uma equipe profissional, de bom nível, exige. Entretanto, com isto forma-se um círculo vicioso: não há equipe porque custa caro e não havendo bons noticiosos falta patrocínio – que pagaria o custo do pessoal e daria lucro. A hora em que os empresários do rádio entenderem que o processo deve ser invertido, todos lucrarão – especialmente os ouvintes.

xxx A propósito do registro que aqui fizemos, sobre o fato de nenhuma das FMs de Curitiba terem, até o momento, sabido utilizar o som limpo e perfeito do compact-disc (laser) em suas programações, um acréscimo: duas emissoras do Interior – a Cruzeiro do Sul, de Londrina e a Ilha do Mel, em Paranaguá, já estão fazendo grande parte de seus horários com o “momento laser”. A FM – Ilha do Mel, inclusive, dispõe já de bom acervo, com exclusividades importantes, artistas de sucesso – e ganhando, assim, um público cada vez maior. Em Curitiba, enquanto isto, continuamos ainda ouvindo discos chiados e absolutamente descartáveis de qualquer programação inteligente.”

Agora vamos dar a palavra ao fundador da Estação Primeira. Em 10 de julho de 2023, assisti a um debate no Hard Rock Café intitulado: “Comunicadores do Rock: as rádios como difusoras do Rock and Roll em Curitiba” e seus palestrantes eram Hélio Pimentel e Mário Ribeiro (diretor comercial da Estação Primeira). Num papo descontraído, eles contaram a história da rádio e a influência que ela exerce até hoje entre os que tiveram a sorte de serem seus ouvintes. Em janeiro de 2019, Hélinho deu uma entrevista pra revista Topview em que ele resume bem toda a experiência que viveram:

“Em 1984, meu pai me liga e fala que tinha a oportunidade de conseguir uma rádio no Ministério das Comunicações. Meu sonho! Fiquei um ano indo para Brasília, do Rio de Janeiro, falar com deputados. Onze grupos do Paraná entraram na concorrência. Por meio da força do meu pai e de um esforço meu, consegui ganhar. Me despedi da Baby e do Pepeu, de quem era empresário na época, e falei: “Vou para o Paraná”. Vim com a intenção de implantar a Estação Primeira. Quando entrou o governo Sarney [em 1985], o Toninho Malvadeza [Antônio Carlos Magalhães, então Ministro das Comunicações] caçou todas as concessões dadas pelo governo anterior. Eu já estava comprando equipamento quando entra o informe na TV com o Cid Moreira. Fiquei mais um ano indo para Brasília, reconstruindo apoio com senadores. Daí liberaram. A rádio estreou em novembro de 1986 como a primeira rádio rock do Paraná, com locutoras femininas e com um contexto diferente das que se intitulavam alternativas e colocavam 15 minutos de Hendrix rolando. Nós criamos uma rádio em que tocavam os grandes sucessos das grandes bandas dos anos 1950, 1960, 1970 e já os 1980. Trazia desde Elvis até o pós-punk dos Smiths, The Cure, Talking Heads. No Brasil, as bandas que estavam explodindo, Legião Urbana, Capital Inicial, IRA, Paralamas, Plebe Rude. Todo mundo que chegava em Curitiba pra fazer show ia direto para a rádio, ouvir música, dar entrevista. Renato Russo, Frejat, Cazuza, Herbert Vianna… Era uma referência no Brasil. Tinha programa que o Gilberto Gil, Evandro Mesquita, Baby apresentava… Eu passava uma semana no Rio gravando para entrar no mês seguinte, saindo para jantar com essas pessoas. Esse projeto acabou criando um período de grande riqueza cultural em Curitiba, com foco essencial na música. Durante sete anos, ela criou uma geração que até hoje se diz órfã. Às vezes, entro em um consultório e o médico fala, “pô, ouvia tua rádio”. Já encontrei cara que chorou, gente que tatuou o microfone da Estação… Era assim como uma falange de pessoas em volta de um bem comum, de um espírito… Mas chegou um momento em que eu estava cansado, tinha esgotado minha paciência, me decepcionado muito com essa situação societária, por não cumprimento de acordos. Passei seis meses dormindo e chorando, aí abri mão da coisa, negociei e saí.”

Em 2014, em uma entrevista concedida ao jornalista Marcos Anubis, Hélinho Pimentel, explicou como foi a reação da direção da emissora ao ouvir pela primeira vez o álbum de estreia do grupo paulistano “Gueto” intitulado “Estação Primeira”. Ouça a música aqui.

“Houve um dia na rádio em que estávamos eu, o Mário Ribeiro (diretor comercial), o Fernando Tupan (programador musical) e meu irmão Arnoldo, que era uma grande figura. Aí chegou um disco do Gueto, o ‘Estação Primeira’, enviado pelo divulgador da Warner. Como ele tinha uma música chamada ‘Estação primeira’, nós fomos direto nela”, explicou Hélinho.

A surpresa e o entusiasmo das pessoas que estavam na rádio, naquele momento, seria ainda maior ao ouvir o álbum. “Colocamos o disco em uma pickup do estúdio, que tinha uma ‘sonzeira’ e duas caixas fabulosas e quando a música entrou nós percebemos que ela tinha uma letra sensacional e simplesmente contava a história da rádio. Ela dizia que o jovem não tinha mais com o que se preocupar, que agora ele tinha uma rádio para ouvir”, continuou. A partir daí, o Gueto se tornou uma das preferidas da casa e também dos curitibanos. Tudo por culpa da faixa-título do álbum e da visão de Hélinho, que abriu espaço para inúmeros artistas nacionais que não encontravam espaço em outras emissoras. “Ela pegou em todo mundo, se transformou em vinheta e virou um hit da rádio. Por conta disso, nós fizemos a primeira festa de aniversário da Estação Primeira com um show do Gueto. Aquilo foi uma coisa muito marcante para todo mundo, porque nós não conhecíamos a banda e todos ficaram enlouquecidos com a levada. E realmente esse disco era mesmo muito bom. Na hora nós já ligamos para a gravadora e os convidamos para tocar na nossa festa”, finalizou Hélinho Pimentel.

Como na rádio Fluminense, uma das melhores características da Estação Primeira eram suas locutoras. Uma das mais icônicas foi a Margot Brasil, que continua até hoje no dial em outras rádios. Ela relembrou como era o clima de trabalho: “a Estação Primeira era uma rádio movida à emoção. Os programas eram produzidos muito mais com paixão do que com técnica. O roteiro era escrito em folhas de caderno e os discos eram trazidos de casa para a realização dos programas. O diferencial era a paixão e a postura da rádio. Nunca vai haver uma rádio como a Estação Primeira, por mais que as pessoas sonhem com isso, não vai rolar. Principalmente porque as coisas mudaram, a geração é outra, as coisas estão muito diferentes hoje. A Estação Primeira ajudou a fortalecer todo um mercado aqui em Curitiba, onde a Drop Dead e a Maha, por exemplo, iriam anunciar, na Caiobá? Não, esse não era o perfil do público consumidor dessas marcas, a Estação Primeira era. Esse era um dos grandes diferencias da rádio. A equipe era muito unida, se entrasse alguém que destoasse do conjunto não durava muito tempo, porque a sintonia entre os funcionários era total.”

Comentei com alguns amigos que estava escrevendo um artigo sobre a Estação Primeira e alguns dias depois, colocaram anonimamente uma carta por baixo da minha porta com este teor explosivo. Tenho uma leve desconfiança de quem seja o autor das bem traçadas linhas, mas não posso revelar uma fonte em off:

“A rádio Estação Primeira sem dúvida foi a emissora mais influente da história das ondas sonoras de Curitiba, do Paraná e do Brasil e influenciou diretamente os gostos musicais de uma geração, levando a capital do Paraná a ser chamada de Seattle brasileira, mas não pela onda grunge, mas pela efervescência musical. Sem dúvida, o principal responsável pela mudança radical da cidade do rock setentista e sessentista para oitentista com correntes punk, new wave, synthpop, dark foi o jornalista e músico Fernando Tupan. Foi na Estação que pela primeira vez ouvi Joy Division, New Order, Depeche Mode, Duran Duran, Kraftwerk, Grace Jones, George Michael, Thompson Twins, Tears For Fears, Prince, Big Audio Dynamite, Pet Shop Boys, OMD, Erasure, Eurythmics, Soft Cell, Bronski Beat, Laurie Anderson, The Cure, David Bowie, Boy George, Devo, The B-52’s, 808 State, The Clash, U2, R,E.M., The Smiths, Echo & the Bunnymen, Public Image, My Bloody Valentine, Dinosaur Jr., Talking Heads, Violent Femmes, The Mission, Nine Inch Nails, Madness, Bad Manners, Mettalica, Guns and Roses, Jane’s Addiction, Misfits, Motörhead, Prefab Sprout, Bangels, Lloyd Cole and Commotions, Sade, Style Council, Joe Jackson, Philip Glass, Tom Waits, Spaceman 3, Galaxie 500, Sonic Youth, Fugazi, Cocteau Twins, The Stone Roses, Elvis Costello, Durutti Column, Kate Bush,The Jesus and Mary Chain, Kate Bush, The Fall, The Go-Go’s, Pretenders, Sinéad O’Connor, Sugarcubes, Talk Talk, The Vapors, Hüsker Dü, The Replacements, Ramones, Black Flag, The Jam, Pixies, Nick Cave & the Bad Seeds, Throwing Muses, Siouxsie and the Banshees, Lucinda Williams, The Bodines, Queen Latifah, De La Soul, Primal Scream, Public Enemy, Eric B. & Rakim, Ice T, Run-D.M.C., Beastie Boys, INXS, Paul Simon, Leonard Cohen, The Church, Ira!, Edgard Scandurra, Picassos Falsos, Finis Africae, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, BAAF, Pós Meridion, Bons Garotos Vão Para o Inferno, Tessália, e Ídolos de Matinée, a mais importante banda da nova história escrita a partir da segunda metade dos anos 80.

Fernando Tupan foi a alma da Estação Primeira, responsável pela minha educação musical e de milhares de curitibanos, ele como programador e diretor artístico era totalmente oposto ao que o proprietário da rádio queria musicalmente para Curitiba na época: o conservadorismo de Baby Consuelo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, A Cor do Som, Blindagem, Rolling Stones, Grateful Dead, dinossauros do rock e em decadência musical há anos. Arrisco a dizer que a Estação Primeira foi mais importante do que a 89 de São Paulo, que tocava muita baba musical, como Madonna e outros lixos musicais da época, para massificar o pop e rasgar outros estilos musicais brasileiros. A rádio não chegou a completar 10 anos de idade, morreu bem antes disso para virar uma emissora de notícias. Depois da saída de Tupan, a Estação Primeira começou a se tornar chata e repetitiva, não encontrou nenhum outro descobridor de pérolas musicais. Em diversos momentos da programação você se sentia em Londres, como se tivesse ouvindo a BBC 6 nos melhores momentos, ou a WZBC de Boston. A mais importante rádio da história da cidade poderia ter continuado, tivemos outras rádios que repetiram a fórmula e as músicas lançadas entre 1985 a 1991, e até hoje temos reencarnações musicais do gosto de Fernando Tupan na “oldie” Mundo Livre. Sim, a rádio curitibana está morrendo, agoniza há anos, cada vez menos pessoas escutam e os grandes responsáveis são as rádios na web, o Youtube, o Soundcloud e outras plataformas de divulgação lançando novidades todos os dias e o que é melhor, sem as repetições irritantes dos péssimos programadores da cidade. Fernando Tupan passou também pela Rádio Educativa em 2011, onde colocou as ideias musicais dele na mesa, mas perdeu a batalha para os reacionários da MPB, que não aceitavam mostrar a real identidade e a vocação da música curitibana: o rock and roll, atrasando o mercado para a cultura paranaense em pelo menos 15 anos. Mas vamos voltar ao que interessa, se for para comparar a importância da Estação Primeira eu falaria que ela poderia ter contribuído mais para transformar a cidade, assim como a péssima Rádio Educativa, mais preocupada em mainstream e velharias do que impulsionar o mercado musical da cidade. Sinto saudades do gosto eclético musical do grande Fernando Tupan, hoje, o mais importante jornalista político do Paraná, e torço para ele desistir de falar de Lula e Bolsonaro, de Ratinho Junior e Alexandre Curi, de Rafael Greca e Ney Leprevost, e volte para o rádio, onde ele revolucionou o segmento, para reescrever uma nova história.”

Mas pelas últimas notícias ouvidas na cidade, Hélinho Pimentel ainda não desistiu de voltar com a querida Estação Primeira. Em 2012, quando o município de Curitiba abriu edital para concessão da Pedreira Paulo Leminski e do teatro Ópera de Arame, Pimentel e seus sócios, Dody Sirena e Cicão Chies, da DC Set, venceram a licitação. Hoje, eles são responsáveis por restaurar o lazer e a cultura da cidade com a surpreendente revitalização da Ópera e da Pedreira, espaços que compõem o Parque das Pedreiras. Uma mudança que vem para revolucionar a nossa relação com esses cartões-postais da cidade e também devolver Curitiba à rota dos grandes shows. Perdi as contas

Desde 2015 existe uma previsão de retorno da Rádio Estação Primeira em Curitiba. Na palestra que ouvi no Hard Rock Café, Hélinho garantiu que o retorno está confirmado para o segundo semestre de 2023. O estúdio inclusive já está montado no Mirante da Pedreira (veja foto acima). Agora parece que vai, pois surgiu um patrocinador. O retorno da rádio acontece em conjunto com o projeto Ligga Estação Primeira, da Ligga Telecom e deverá acontecer em formato digital. A volta da rádio consiste no lançamento de uma plataforma digital com quatro canais de música (Classic Rock, Brasil, Pop e Rock Hits), além da inauguração, em uma segunda fase, de mais um canal que será a releitura da Estação Primeira no seu modelo original. Esta iniciativa contou com uma mão do empresário Samuel Lago, que descobriu anos atrás que o domínio Estação Primeira não estava registrado. Pois bem, ele o registrou e agora, gentilmente, devolveu sua posse ao Hélinho Pimentel.

“O resgate da Rádio Estação Primeira, sobretudo com sede no coração da Pedreira Paulo Leminski, tem grande representatividade, pois, além da programação a frente do seu tempo, a Estação foi a rádio que realizou o concerto de inauguração da Pedreira Paulo Leminski, em 1989, com show do Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso e The Wailers, ainda em sua formação original e esteve envolvida diretamente na promoção ou realização dos principais shows, nos primeiros anos de existência da Pedreira”, relembra Hélinho Pimentel.

Dizem que coisas muito boas jamais se repetem, ainda mais da mesma forma. Torço pra que a volta da Estação Primeira seja uma exceção à regra.

de quantas bandas grandes gringas tocaram este ano por aqui.

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