O distúrbio olfatório é um sintoma que frequentemente surge nos estágios iniciais do Parkinson, muitas vezes décadas antes dos sintomas motores. No entanto, por ser pouco notado ou associado à doença, seu diagnóstico costuma ser atrasado. Outro desafio é a ausência de um tratamento eficaz para essa condição, que afeta a qualidade de vida dos pacientes.
Com o objetivo de investigar os mecanismos subjacentes ao Parkinson, ainda não completamente esclarecidos, a pesquisadora de pós-doutorado do programa de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Laís Rodrigues se dedicou a estudar a doença.
A estudante explica que o Parkinson está relacionado à morte de neurônios dopaminérgicos, responsáveis pela produção de dopamina, localizada na substância negra do cérebro.
A dopamina é um neurotransmissor envolvido em várias funções, como o controle dos movimentos, o que justifica os sintomas motores da doença. O tratamento principal envolve a reposição de dopamina. Contudo, o distúrbio olfatório parece estar associado ao aumento de neurônios dopaminérgicos no bulbo olfatório, o que sugere que a reposição de dopamina pode ser ineficaz, ou até mesmo agravar a perda olfativa.
Para entender melhor esse quadro, Laís Rodrigues realizou testes com diferentes terapias em ratos que apresentavam distúrbio olfatório induzido pelo Parkinson, buscando novas formas de diagnóstico e tratamento.
“Como o distúrbio olfatório é um dos primeiros sinais da doença, um método eficaz de identificá-lo ajudaria muito no diagnóstico precoce”, afirma a pesquisadora.
Em seu estudo, a pesquisadora utilizou o pesticida rotenona para simular o Parkinson em ratos. “A 6-hidroxidopamina também é usada em pesquisas, mas ela está mais ligada a sintomas motores. Por isso optamos pela rotenona, que se relaciona ao distúrbio olfatório”, explica.
Os animais foram divididos em quatro grupos, cada um recebendo uma terapia diferente: cafeína, vitamina B9, nicotina e vitamina B12, além de um grupo controle que não recebeu tratamento. Ratos tratados com cafeína e vitamina B9 mostraram melhora, enquanto aqueles que receberam nicotina e vitamina B12 não apresentaram resultados positivos.
Laís Rodrigues planeja avançar com os estudos para iniciar testes em humanos. Um dos desafios será adaptar o diagnóstico à realidade brasileira, considerando particularidades culturais na percepção olfativa. “Certos cheiros que são comuns para nós não existem em outras regiões do mundo. Essa questão olfativa é bastante complexa”, destaca a pesquisadora. “Ainda temos um longo caminho até a conclusão dos testes clínicos, mas estamos cada vez mais próximos”, finaliza.