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Distúrbios de sono em crianças podem ser sinal de saúde bucal

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O Ciências, publicação da Universidade Federal do Paraná, conta que boa parte dos brasileiros precisa buscar um dentista com urgência. É o que aponta a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal de 2023, realizada pelo Ministério da Saúde. O resultado indica que, entre os adultos de 35 a 44 anos, 48% precisam realizar ao menos um procedimento odontológico eletivo. Nos idosos entre 65 a 74 anos, 45% necessitam de algum tipo de tratamento imediato, seja por causa de dor ou devido a alguma infecção de origem bucal.  

Em 2010, a mesma pesquisa apontou que 66% das crianças de 12 anos apresentaram dor de dente e necessidade de tratamento (morbidade dentária autorreferida). Neste grupo, 29% relataram ter sentido dores de dente nos meses anteriores à realização da pesquisa. A intensidade de grau cinco (a maior da escala) foi apresentada em 27,5% dos entrevistados.  

Quem já teve, sabe: a dor de dente consegue atrapalhar qualquer atividade do cotidiano, sem mencionar a dificuldade enfrentada na hora das refeições. Mas para além das tarefas do dia a dia, esse desconforto pode ter impacto na hora do descanso.  

Em artigo publicado no periódico European Archives of Pediatric Dentistry, da Springer Nature, Bruna Luiza Maximo Ramos, pesquisadora egressa da pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), confirmou que a dor de dente e o desconforto estão associados a uma maior prevalência de distúrbios do sono.

A publicação é decorrência de sua dissertação de mestrado, que trata da mesma temática. Colaboraram com o estudo a então mestranda do mesmo programa, Aline Midori Batista Umemura; o orientador José Vitor Nogara Borges de Menezes; e a co-orientadora Juliana Feltrin de Souza, ambos professores do Departamento de Estomatologia da UFPR; além do professor Oliviero Bruni, da Universidade Sapienza de Roma (Itália).  

O estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de distúrbios do sono em crianças brasileiras entre quatro e cinco anos de idade a partir do relato dos pais sobre desconforto e dor dentária. A pesquisa transversal – cuja coleta de dados é feita em um momento e em um local específicos – foi realizada na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, com 604 crianças em fase pré-escolar, matriculadas em escolas municipais. 

Para a produção de dados, os pesquisadores utilizaram três questionários, respondidos pelos responsáveis pelas crianças participantes. Um desses questionários foi o socioeconômico, que buscou entender a renda familiar mensal, a escolaridade dos pais e cuidadores, bem como a estrutura familiar das crianças.  

Já o questionário denominado “Sleep Disturbance Scale for Children” (SDSC) – que, em tradução livre, significa “Escala de Distúrbios do Sono para Crianças” – teve o objetivo de detectar os distúrbios do sono em crianças.  

Entre os resultados observados nas respostas ao formulário, destaca-se que 21% das crianças apresentavam distúrbios respiratórios do sono, como apneias; 19% tinham transtornos da transição sono-vigília, quando se tem sono muito mais cedo ou muito mais tarde do que o exigido pelo ambiente; e 13% suavam excessivamente dormindo, hiperidrose do sono. 

O terceiro questionário utilizado pelos pesquisadores – intitulado “Dental Discomfort Questionnaire” (DDQ-B), que pode ser traduzido como “Questionário de Desconforto Dental” -, diz respeito à observação de dor de dente nas crianças por parte dos pais e em qual período isso ocorria; além de comportamentos relacionados à dor e ao desconforto de origem dental.   

A partir dele, foi possível concluir que 62% (363) das crianças apresentavam pelo menos um sinal indicativo de dor e de desconforto dentário. Também foi observado que 8% (49) dos participantes necessitavam tratamento odontológico mais invasivo. 

Os pesquisadores ainda realizaram uma avaliação clínica dentro do ambiente escolar para examinar a saúde bucal das crianças. Observou-se que 42% (255) dos participantes apresentavam pelo menos um dente cariado e que a média de dentes afetados pela cárie chegava a quase dois. Além disso, 8% (48) tinham ao menos um dente com lesões, pus, fístulas ou envolvimento pulpar. 

A partir da relação dos dados obtidos pelos formulários e da análise clínica das crianças participantes, a hipótese de que a dor de dente e o desconforto dentário estão associados a uma maior prevalência de distúrbios do sono foi confirmada: “Os resultados evidenciaram que crianças que tiveram problemas de dor de dente recente têm mais chances de desenvolver distúrbios de sono como hiperidrose e parassonias, como sonambulismo ou pesadelos”, destaca Bruna.  

De acordo com a convergência de dados entre respostas aos formulários e análise clínica, 72% (34) das crianças que apresentavam dor dentária também apresentavam algum distúrbio do sono. A mesma porcentagem foi observada na relação entre desordens em iniciar e em manter o sono e dor dentária.  

Entre aqueles que apresentaram problemas de amígdala ou de adenoide, 70% (45) tinham algum distúrbio do sono. Do total de 64 crianças que possuem esse problema, 56% (36) tinham distúrbio de transição sono-vigília. 

O estudo ainda revelou que entre as crianças que dormiam de boca aberta, 76% (195) possuíam algum distúrbio do sono. Nessa condição, 65% (168) também apresentavam distúrbio de transição sono-vigília. Confira mais detalhes no infográfico abaixo:  

Os pais precisam ficar atentos  

De acordo com os pesquisadores, a saúde bucal e os distúrbios do sono podem ter uma relação bidirecional. Isso porque as doenças e as alterações bucais podem impactar negativamente na qualidade do sono, da mesma forma que determinados distúrbios podem ter influência na condição bucal. “Alguns estudos mostram o impacto negativo da condição bucal como cárie dentária, dor e desconforto de origem dentária e até a presença de alterações oclusais – como mordida aberta – na qualidade do sono, assim como há dados sobre o impacto de distúrbios do sono na ocorrência de bruxismo do sono ou vice-versa”, ressalta Souza. 

Os autores do artigo alertam para que a saúde bucal seja observada como um fator relevante na qualidade de vida das crianças. “Outro ponto muito importante é que os responsáveis de crianças devem buscar por informações sobre como manter a saúde bucal adequada nas diversas faixas etárias”, reforçam.   

Dentre as medidas de cuidado, observar as alterações bucais ou comportamentos da criança durante as refeições pode contribuir para identificar problemas. Segundo os cientistas, a demora na alimentação, evitar a utilização dos dentes da frente para morder e levar as mãos à boca com frequência podem ser sinais de problemas. 

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