Por décadas, uma das luas geladas de Júpiter tem sido considerada um dos lugares mais promissores para se buscar vida extraterrestre no sistema solar. Com um oceano subterrâneo e um ambiente potencialmente habitável, Europa sempre foi um alvo tentador na nossa vizinhança cósmica.
Agora, a humanidade está pronta para dar uma olhada mais de perto nessa lua. Às 12h06 (ET) desta segunda-feira, a NASA lançou a missão Europa Clipper, a maior espaçonave já construída pela agência para uma missão científica planetária. A sonda foi lançada do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, a bordo de um foguete Falcon Heavy da SpaceX.
Pouco depois das 13h (ET), a NASA e a SpaceX confirmaram que a Europa Clipper havia sido implantada com sucesso no espaço.
“Podemos ver que a Clipper se separou com sucesso. Diga adeus à Clipper em sua jornada para Europa”, anunciou Pranay Mishra, diretor de voo da missão no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, durante a transmissão do lançamento.
Controladores da missão comemoraram com aplausos quando os primeiros sinais da espaçonave foram recebidos. Um possível problema com o sistema de propulsão foi relatado, mas logo foi confirmado que estava funcionando como esperado.
Agora começa a longa jornada até Júpiter. A Clipper deve entrar na órbita do planeta em 2030, após um voo de 5 anos e meio e 1,8 bilhão de milhas.
O lançamento ocorreu alguns dias depois do previsto.
Ele estava programado para quinta-feira, mas a NASA teve que adiar por causa do furacão Milton, que atingiu a costa oeste da Flórida na quarta-feira, perto de Siesta Key. O Centro Espacial Kennedy foi fechado enquanto a tempestade atravessava o estado com ventos fortes e chuvas intensas.
Apesar do atraso, foi apenas um contratempo em uma missão que levou mais de uma década de planejamento e desenvolvimento.
“É surreal”, disse Jordan Evans, gerente do projeto no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, antes do lançamento. “Houve batalhas em todos os níveis, desde o conceito inicial, passando pela aprovação, até cada marco superado ao longo do caminho. Estar neste ponto, vendo a equipe se preparar, é incrível.”
Europa Clipper não tem como objetivo direto detectar vida. Em vez disso, vai estudar a composição da lua, sua estrutura interna e geologia. Essas informações podem ajudar os cientistas a confirmar se Europa tem os ingredientes necessários para sustentar vida agora — ou se já teve em algum momento.
“Estamos procurando um ambiente habitável”, disse Bonnie Buratti, cientista adjunta do projeto. “Buscamos os elementos essenciais para a vida, como água líquida — que acreditamos estar lá —, a química certa e uma fonte de energia, seja por geologia ativa ou outra coisa que funcione como uma bateria para impulsionar a vida.”
Buratti afirmou que há fortes evidências científicas de que um vasto oceano está escondido sob a superfície gelada de Europa. Segundo a NASA, esse oceano teria o dobro do volume de todos os oceanos da Terra juntos.
A Clipper fornecerá novos insights por meio de 49 sobrevoos de Europa ao longo de quatro anos.
“Vamos descobrir a espessura da crosta de gelo e se há pequenos lagos por lá”, disse Buratti. “Com o oceano, eventualmente entenderemos sua profundidade.”
Para fazer essas observações, a espaçonave voará por ambientes de radiação intensos gerados pelo campo magnético de Júpiter, que, de acordo com a NASA, é cerca de 20.000 vezes mais forte que o da Terra.
“Se fôssemos apenas orbitar Europa e estudá-la, a radiação provavelmente destruiria até os eletrônicos mais resistentes em um ou dois meses”, explicou Evans.
Em vez disso, os gerentes da missão desenvolveram uma estratégia para que a sonda orbite Júpiter em sintonia com Europa — um tipo de dueto cósmico que preservará seus instrumentos da exposição prolongada à radiação.
“Então, a cada seis vezes que Europa orbitar Júpiter, ou a cada 21 dias, estaremos exatamente no lugar certo do universo para estarmos próximos a Europa”, disse Evans. “E cada sobrevoo será diferente, permitindo-nos cobrir quase toda a lua.”
A equipe precisará ser paciente. Antes de alcançar Júpiter, a espaçonave passará por Marte e, em seguida, retornará à Terra, usando a gravidade de ambos os planetas para se lançar mais profundamente no espaço.
Europa foi descoberta em 1610 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei. O corpo gelado é a quarta maior das 95 luas conhecidas de Júpiter.
Várias sondas espaciais já observaram Europa — incluindo as missões Voyager 1, Voyager 2 e Galileo da NASA — mas esta será a primeira missão dedicada à lua e a primeira vez que a NASA estudará um mundo oceânico além da Terra.
Esse marco foi aguardado por muito tempo por Buratti, que escreveu sua tese sobre Europa na Universidade Cornell nos anos 1980.
“Eu só estou nesta missão há dois anos e meio. Não comecei nela”, disse. “Mas estou radiante por voltar a algo tão próximo e querido ao meu coração. É realmente um sonho.”