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Rio Tâmisa já foi um depósito de esqueletos

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O que estava escrito no antiquário do século XIX, H.S. Cuming, em On the discovery of Celtic crania in the vicinity of London revelava um fato curioso e sombrio. Nele está o primeiro relato publicado de restos humanos sendo retirados do Rio Tâmisa durante a construção da Ponte Victoria, em Londres. Entre armas de bronze e ferro, uma quantidade incomum de crânios foi encontrada, levando Cuming a especular que se tratava dos restos de uma batalha na Idade do Ferro. Será que era o caso mesmo?

Desde a época de Cuming, centenas de ossos humanos emergiram do Tâmisa, a maioria datando da Idade do Bronze e do Ferro. Como esses corpos foram parar no rio é uma pergunta que intriga os londrinos há anos. Nichola Arthur, curadora do Museu de História Natural de Londres, e sua equipe de pesquisadores investigaram mais a fundo o mistério, analisando datas de radiocarbono de 30 esqueletos.

“Há uma predominância de datas da Idade do Bronze e do Ferro, o que enfatiza a necessidade de explorar o conjunto de achados do Tâmisa no contexto mais amplo das práticas de deposição aquática no noroeste da Europa pré-histórica”, afirmou Arthur.

Esta não é a primeira vez que Arthur se depara com ossos no rio. Em um estudo anterior, ela considerou as suposições de Cuming ao mergulhar na história dos corpos do Tâmisa, que foram quase esquecidos até o final dos anos 1980, quando os arqueólogos Richard Bradley e Ken Gordon se interessaram por eles. As observações de Bradley e Gordon sobre artefatos de metal também encontrados em túmulos da Idade do Bronze corroboraram as datações por radiocarbono, confirmando a época em que essas pessoas viveram.

Arthur e a equipe dele compararam as novas datas de radiocarbono com 31 descobertas anteriores e conseguiram situar os corpos, encontrados principalmente a montante do rio, na Idade do Bronze e do Ferro. Eles tinham entre 4.000 e pouco menos de 2.000 anos. Por que justamente desse período?

Algo de importância histórica deve ter acontecido naquela época. Arthur, que dedicou grande parte de seus estudos ao significado cultural dos enterros aquáticos, acredita que os crânios e outros restos esqueléticos podem ter sido depositados no rio como parte de algum tipo de ritual.

Outros arqueólogos, no entanto, sugerem que a teoria de Cuming sobre um violento confronto entre exércitos pode ter mais fundamento do que uma mera suposição. Por milênios, o Tâmisa forneceu água, alimento e serviu como uma importante rota comercial para Londres, algo que o arqueólogo Christopher Knüsel considera valioso o suficiente para ser motivo de disputa.

A pesquisa de Knüsel sobre os corpos do Tâmisa argumenta que a proximidade entre crânios e armas não é uma coincidência. Embora, inicialmente, ele tenha reconhecido que isso poderia ter sido parte de uma prática funerária, uma análise posterior sobre guerra e violência na Europa antiga sugere que batalhas podem ter ocorrido pelo controle do Tâmisa, e o rio teria sido o túmulo das vítimas.

Evidências de traumas esqueléticos nos restos também convencem Knüsel de que algo mais do que rituais mortuários estava em jogo. Arthur agora planeja focar na análise dessas lesões em um estudo futuro, o que pode finalmente desvendar o mistério de por que tantos corpos foram parar no fundo do Tâmisa. Quem sabe, talvez até prove que Cuming sempre esteve certo.

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