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domingo, novembro 17, 2024
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Super gonorreia ameaça Brasil e o mundo

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Imagine uma situação digna de um gibi, mas “super gonorreia” — mais conhecida como gonorreia resistente a antibióticos — é real. Recentemente, muitos países relataram um aumento dessa infecção persistente, com casos quase dobrando, indicando que certos antibióticos estavam se tornando menos eficazes ou totalmente ineficazes contra a Neisseria gonorrhoeae, a bactéria responsável pela gonorreia.

A gonorreia está entre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) mais comuns globalmente. Apenas no Brasil, a OMS relatou mais de meio milhão de casos de gonorreia. Alarmantemente, isso não afeta apenas os jovens: casos de gonorreia, clamídia e sífilis em indivíduos de 55 a 64 anos mais que dobraram na última década.

O problema é agravado pelo fato de que uma parte significativa das infecções por gonorreia em 2022 mostrou resistência a pelo menos um antibiótico, como destacado em um relatório sobre a super-gonorreia. Como afirmado pelo autor do relatório, a gonorreia “continua a vencer os medicamentos usados para combatê-la”.

Descrito como uma séria ameaça à saúde pública, a capacidade da gonorreia resistente a antibióticos de resistir aos tratamentos com ceftriaxona e azitromicina, dois antibióticos-chave, é uma preocupação global. Casos foram relatados em vários países, incluindo Reino Unido, França, China e Japão. De onde surgiu a gonorreia resistente a antibióticos? Quão preocupados deveríamos estar? E quais medidas podemos tomar para nos proteger? Aqui está o que dizem os especialistas.

“Em essência, é o ‘uso inadequado de antibióticos'”, explica a professora de virologia molecular e microbiologia Dra. Hana El Sahly.

O Dr. Amesh Adalja, especialista em doenças infecciosas, elabora que as bactérias, dominantes no planeta por bilhões de anos, evoluíram mecanismos para sobreviver. “Os antibióticos são frequentemente produtos naturais produzidos por outros micróbios como mecanismos de defesa uns contra os outros, então a resistência aos antibióticos é uma adaptação evolutiva previsível.”

Ele enfatiza que o uso humano de antibióticos — como prescrições desnecessárias — acelera esse processo evolutivo natural.

Vale ressaltar que, embora algumas fontes se refiram a ela como super-gonorreia, nem todos os especialistas endossam esse termo. Segundo Adalja, “‘Super’ gonorreia não é um termo médico e não contribui para explicar o fenômeno da gonorreia resistente a antibióticos.”

Embora rara, a gonorreia resistente a antibióticos exige atenção séria, afirma El Sahly. O professor especializado em DSTs Dr. Matthew Hamill concorda. “Felizmente, nossos piores medos não se concretizaram”, observa ele. “A gonorreia resistente a múltiplos medicamentos não é generalizada.”

No entanto, os relatos globais servem como alertas. “É algo com o qual devemos permanecer vigilantes”, enfatiza Hamill. Ele destaca que a gonorreia resistente a medicamentos é mais prevalente em outras partes do mundo, onde as viagens e a atividade sexual facilitam a propagação de DSTs.

Adalja acrescenta que todos devem se preocupar em adquirir formas de gonorreia resistentes a antibióticos devido à complexidade no tratamento. “É provável que as taxas de gonorreia resistente a antibióticos aumentem”, ele prevê.

Atualmente, não há vacinas para prevenir a gonorreia. Especialistas recomendam medidas preventivas como o uso de preservativos. “Se você não tem gonorreia, não pode desenvolver gonorreia resistente a antibióticos”, enfatiza Hamill. “Os preservativos continuam sendo uma medida preventiva eficaz.”

Além das práticas de sexo seguro, Hamill recomenda seguir as diretrizes de triagem do CDC para testes regulares de DSTs, especialmente porque a gonorreia pode ser assintomática. Os sintomas, quando presentes, incluem sensação de queimação ao urinar, secreção anormal e desconforto na área genital.

Após possível exposição à DST, tanto El Sahly quanto Hamill recomendam discutir o uso profilático da doxiciclina (doxy-PEP) com um profissional de saúde. Este medicamento, se tomado dentro de 72 horas após o sexo desprotegido, pode reduzir o risco de desenvolver gonorreia em até 60%. Frequentemente disponível em clínicas de saúde sexual ou coberto por seguro.

Em um nível de saúde pública, El Sahly destaca a importância de reduzir o uso inadequado e excessivo de antibióticos em geral para mitigar os riscos de resistência a antibióticos, incluindo os apresentados pela gonorreia. Especialistas enfatizam a necessidade de pesquisa para desenvolver novas vacinas e tratamentos contra a gonorreia.

Áreas promissoras incluem testes moleculares, que buscam marcadores genéticos que sinalizam uma infecção por gonorreia resistente a certos antibióticos, permitindo que médicos prescrevam o melhor tratamento para combatê-la. “Acho que o futuro é realmente emocionante para poder usar ferramentas mais modernas para detectar resistência microbiana”, diz Hamill, “mas ainda não estamos onde precisamos estar”.

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