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segunda-feira, outubro 14, 2024
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Casa Gomm abre mostra sobre canoa indígena

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A Casa Gomm, sede da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC), da Secretaria estadual da Cultura, em Curitiba, abriu para visitação uma mostra sobre o registro do resgate da canoa Ygá-Mirî, patrimônio indígena recuperado em 2018 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) com a ajuda de povos Guarani, no sítio arqueológico da antiga Cidade Real do Guairá.

Na exposição, o visitante encontrará uma réplica 3D (Modelagem Tridimensional) da canoa; módulos explicativos com informações sobre a descoberta, o resgate e sua conservação; além de acervo histórico com vasos ancestrais encontrados também em sítios arqueológicos no Paraná. Atualmente, a canoa está em exposição no Museu Paranaense (MUPA).

Em 2013, os Avá-Guarani, da aldeia o Tekoha Nhemboetê, em Terra Roxa, no Oeste do Paraná, revelaram a existência de indícios arqueológicos de tempos imemoriais. Entre fragmentos cerâmicos e artefatos líticos – feitos de pedra lascada ou polida –, encontraram o remanescente de uma canoa indígena. O local foi monitorado por cinco anos.

Com sete metros de comprimento, a canoa foi encontrada com cerca de 70% do material enterrado em um barranco, e 30% exposto ao ar livre. O artefato estava 1,5 metro enterrado. “Achamos que o tamanho da canoa era ainda maior. Ela quebrou uma parte. Devia ter uns 10 a 12 metros. Era uma canoa para longas distâncias”, relata Almir Pontes, geógrafo da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC).

A partir da constatação do material histórico, foi feita uma operação de arqueologia para o resgate. Promovida pelo Iphan e com supervisão e apoio técnico-científico da CPC, a retirada do material arqueológico foi iniciada em 2018. O processo de resgate não foi fácil. O grande objeto de madeira úmida pesava bastante, e foram necessárias oito pessoas para carregar. “Foi uma operação bem delicada, e para levá-la até o caminhão tivemos que percorrer três quilômetros”, conta Almir.

Além do trabalho institucional do Governo do Estado, os povos Guarani foram fundamentais para a preservação dos vestígios da canoa Ygá-Mirî. Eles acompanharam todo o processo e trabalharam com as equipes de campo na pesquisa. Além disso, realizaram rituais e rezas para a canoa.

O nome Ygá-Mirî, foi dado após um ritual de batismo. De acordo com os chamois (lideranças religiosas), a canoa revelou-se um elo material e espiritual com o dono anterior da embarcação. Os Avá-Guaranis acreditam que se o objeto encontrado não fosse devidamente tratado, poderiam acontecer alguns reveses com os envolvidos neste projeto.

Nesse contexto, o projeto Ygá-Mirî tem a abordagem da arqueologia colaborativa, isto é, a ideia que defende um compartilhamento equiparado do passado entre cientistas e membros das comunidades. “Isso é importante porque expressa uma relação de respeito com essas populações. Essa canoa envolve a possibilidade de eles poderem existir, cuidar dos filhos e manterem sua terra”, explica Vitor Hugo Silva, antropólogo consultor.

Essa relação dos órgãos institucionais do Governo do Estado com a comunidade Avá-Guarani foi registrada em documentário produzido pelo Iphan. Na produção, foram recolhidos depoimentos de todos os envolvidos no resgate da canoa.

A época provável em que a canoa foi utilizada é entre 1557 e 1632. Nesse período, existiu a Cidade Real do Guairá. Ela foi fundada em território Guarani, na década de 1550, por militares espanhóis que procuravam expandir seu domínio colonial a partir do Paraguai. A história de cerca de 75 anos do avanço ibérico no Oeste paranaense se vincula ao mesmo território em que o povo Guarani viveu durante 2 mil anos.

Os remanescentes arqueológicos localizados na margem esquerda do Rio Paraná e ao Sul da foz do seu afluente, Rio Piquiri, pertencem à Ciudad Real del Guayrá. A destruição da localidade, entre outros assentamentos de posse da coroa espanhola, culmina com as bandeiras paulistas durante os anos de 1631 e 1632.

Essa região voltou a ser explorada pelos portugueses em expedições de reconhecimento entre os anos de 1768 e 1774. Atualmente, os principais indícios de sítios arqueológicos são encontrados em fragmentos de paredes e muros. A maior parte deste material histórico permanece preservado abaixo da superfície do solo.

Agora, a área onde se encontram os vestígios dessa antiga cidade foi tombada como Patrimônio Cultural pelo Governo do Paraná. Dessa maneira, foram reconhecidos os valores históricos, arqueológicos, etnográficos e paisagísticos do local.

A canoa que está no Museu Paranaense deve ser encaminhada para o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (MAE-UFPR). Posteriormente, a canoa retornará para Tekoha Nhemboetê, localidade onde o patrimônio foi encontrado pelos povos Avá-Guaranis. Entretanto, para que o material histórico retorne para o seu local de origem, é necessário que exista um espaço museológico na região indígena.

Serviço:

Casa Gomm – Rua Bruno Filgueira, 850 – Batel

Visitação gratuita

Segunda a sexta-feira, das 10h às 17h

Informações: (41) 3312-0406 ou (41) 3312-0407

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