Consumir mais fibras, presentes em grãos integrais, vegetais e frutas, pode ajudar a proteger o organismo contra bactérias perigosas no intestino.
Após analisar amostras do microbioma intestinal de mais de 12 mil pessoas de 45 países, pesquisadores descobriram que aqueles com altos níveis de uma bactéria benéfica chamada Faecalibacterium tinham menor presença de bactérias potencialmente fatais, como E. coli, segundo um estudo publicado recentemente.
Os pesquisadores também constataram que amostras ricas em Faecalibacterium apresentavam altos níveis de ácidos graxos de cadeia curta, compostos benéficos produzidos pela decomposição das fibras. Estudos anteriores indicam que a redução dessa bactéria está associada a doenças inflamatórias intestinais e outras condições gastrointestinais.
“O principal ponto do nosso estudo é que o microbioma intestinal desempenha um papel importante na redução do crescimento de bactérias potencialmente prejudiciais, e parece que essa influência pode ser modulada pela dieta”, afirmou o pesquisador e principal autor do estudo, Alexandre Almeida, ao Jornal Paraná.
O microbioma intestinal é um conjunto de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus, que habitam o trato gastrointestinal e variam de pessoa para pessoa.
As novas descobertas sugerem que o consumo de alimentos ricos em fibras, como vegetais, feijões e grãos, pode ajudar a proteger contra bactérias nocivas, acrescentou Almeida.
Ele ressaltou, no entanto, que o estudo não prova que a fibra protege contra bactérias prejudiciais. “Foi uma pesquisa observacional realizada em um único momento, então precisamos ter cautela, pois a maioria dos nossos resultados se baseia em associações”, explicou. “Isso significa que estudos futuros são necessários para testar experimentalmente se fibras e outros nutrientes podem, de fato, prevenir infecções ao longo do tempo.”
Os cientistas analisaram amostras fecais de 65 estudos conduzidos em 45 países, abrangendo um total de 12.238 pessoas. Eles descobriram que a composição do microbioma de um indivíduo poderia prever a probabilidade do seu intestino ser dominado por bactérias nocivas.
“Esta é uma análise impressionante”, afirmou o professor de epidemiologia e nutrição Walter Willett ao Jornal Paraná. Ele destacou que, apesar da importância do estudo, ainda não há provas de que a fibra afete a suscetibilidade de uma pessoa a bactérias nocivas. “É apenas uma peça do quebra-cabeça. No futuro, será fundamental incluir a dieta na análise.”
Independentemente disso, há muitas outras razões para consumir a quantidade recomendada de fibras, disse Willett. “Há evidências sólidas de que a fibra ajuda no controle do diabetes, no gerenciamento do peso e na saúde cardiovascular.”
Willett acredita que adultos devem consumir cerca de 30 gramas de fibra por dia. No entanto, algumas pesquisas mostram que a maioria da população ingere apenas cerca de 58% dessa quantidade diária recomendada.
“Mas não é prático contar grama por grama”, ponderou Willett. “O mais simples é seguir algumas regras básicas: sempre que consumir grãos, escolha os integrais e varie ao máximo o consumo de frutas e vegetais. Dessa forma, você garantirá a ingestão adequada de fibras.”
Alguns alimentos são especialmente ricos em fibras. Por exemplo:
- Cereal de farelo sem açúcar (14 g por 100 g) versus cereal de aveia tostada (3 g por 100 g)
- Feijão-lima (13,2 g por 200 g) versus aspargos (2,9 g por 200 g)
- Sementes de abóbora (5,2 g por 28 g) versus avelãs (2,8 g por 28 g)
- Framboesas (8 g por 150 g) versus mirtilos (3,6 g por 150 g)
“Não sabemos, com base neste estudo, se aumentar a ingestão de fibras levará a um crescimento direto de bactérias benéficas”, afirmou Daniel Freedberg, gastroenterologista e professor de epidemiologia, ao Jornal Paraná. “Mas há muitas evidências sugerindo que consumimos muito menos fibras do que deveríamos.”
Para aqueles que não ingerem quantidades suficientes, aumentar o consumo de fibras pode trazer inúmeros benefícios.
“Vejo muitos pacientes com problemas gastrointestinais, como constipação e diarreia, e a fibra é um dos poucos elementos que ajudam em ambas as condições”, disse Freedberg.
Além disso, uma dieta rica em fibras pode proteger o cólon, acrescentou.
“Existem estudos em que indivíduos foram aleatoriamente designados a consumir uma dieta extremamente rica em fibras ou uma alimentação ultraprocessada”, explicou. “Nas biópsias, foi possível observar mudanças negativas nos tecidos do cólon das pessoas que consumiram os alimentos ultraprocessados.”