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Pressa para povoar a Lua não é uma boa ideia

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A corrida para retornar à Lua está a todo vapor na década de 2020, com várias tentativas de pouso, algumas bem-sucedidas e outras não. Esse novo ímpeto lunar traz grandes oportunidades tanto para interesses comerciais quanto científicos.

A Lua oferece condições únicas para pesquisas que não são possíveis na Terra. Sem interferência de satélites ou campo magnético bloqueando as ondas de rádio, astrônomos vislumbram instalar telescópios lunares. No entanto, apenas recentemente começamos a ponderar os potenciais conflitos entre a expansão do conhecimento sobre o universo e as rivalidades geopolíticas e objetivos comerciais envolvidos, buscando equilibrar esses interesses.

Até 2035, daqui a apenas uma década, foguetes americanos e chineses poderiam já estar levando humanos para bases lunares permanentes.

Ambas as bases estão planejadas para as mesmas pequenas áreas próximas ao polo sul lunar, regiões de luz solar quase constante e onde se acredita haver ricas reservas de água nas crateras permanentemente sombreadas. Diferentemente da Terra, a Lua não tem inclinação em sua órbita ao redor do Sol. Resultado: o Sol circula o horizonte polar, nunca se pondo completamente em algumas bordas de cratera e deixando seus fundos em escuridão eterna há bilhões de anos. Temperaturas abaixo de -250°C tornam essas crateras propícias para reter água congelada, possivelmente trazida por colisões de asteroides antigos.

Estudos orbitais sugerem que essas regiões permanentemente à sombra podem abrigar até 500 milhões de toneladas de água. A energia solar constante e proximidade com a água congelada tornam os polos lunares locais atrativos para bases humanas, que precisarão de água para beber, higiene e cultivo de alimentos, sendo inviável trazê-la da Terra.

Por décadas, astrônomos ignoraram a Lua para telescópios por ser impraticável construí-los lá. Mas com as bases, novas oportunidades surgem. O lado mais afastado da Lua, nunca visto da Terra, permitiria captar ondas de rádio de baixíssima frequência, contendo vestígios da “Era das Trevas” cósmica, antes da formação de estrelas e galáxias.

Detectores de ondas gravitacionais nos polos estariam livres de terremotos que os perturbam na Terra, podendo coletar dados de buracos negros orbitando antes da fusão e lançando flashes de luz, ajudando a compreender sua origem e evolução. O frio polar ainda aumentaria a sensibilidade de telescópios infravermelhos para buscar vida em exoplanetas terrestres.

Mas a corrida para bases na Lua pode prejudicar exatamente as condições que a tornam atraente para pesquisas. Embora sua superfície supere a da África, humanos e astrônomos querem os mesmos poucos quilômetros quadrados. Atividades para manter presença humana, como mineração de água, podem gerar vibrações arruinando telescópios de ondas gravitacionais.

Além disso, vários minerais lunares são valiosos na Terra, como hidrogênio e oxigênio líquidos para foguetes, e hélio-3 para computadores quânticos. Porém, um dos raros locais ricos em hélio-3 coincide com um dos mais promissores para um radiotelescópio.

Por fim, constelações de satélites de internet e GPS previstos para orbitar a Lua em breve podem emitir rádio interferindo nesses radiotelescópios. Mas compromissos são possíveis, realocando alguns instrumentos para locais alternativos.

Em 2024, a União Astronômica formou um grupo de trabalho para definir quais locais os astrônomos querem preservar, classificá-los por importância e iniciar conversas com um comitê da ONU. Tais medidas podem ajudar astrônomos, astronautas e interesses privados a dividirem a Lua pacificamente.

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