Uma das mais antigas cidades do Paraná, a pequena Antonina, no Litoral do Estado, é uma terra conhecida pelos seus atrativos naturais, patrimônio histórico e grandes eventos de rua, como o Carnaval, mas nas últimas décadas também tem se destacado por um produto que ajuda a levar o seu nome para outras regiões: a bala de banana.
Atualmente, é impossível dissociar a cidade de seu mais famoso produto gastronômico – ao lado do barreado – e que em 2020 ganhou ainda mais notoriedade com a conquista do reconhecimento de Indicação Geográfica (IG).
A valorização foi dada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) à Associação dos Produtores de Bala de Banana de Antonina e Morretes (Aprobam), que contou com o auxílio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PR), prefeitura e Governo do Estado. O selo foi conferido às duas tradicionais fábricas do produto na cidade, que apesar de concorrentes atuaram juntas por sete anos para esta conquista.
As hoje famosas balas de banana de Antonina começaram a ser produzidas comercialmente na cidade nos anos 70, em uma convergência entre o grande cultivo da fruta na região litorânea e o crescente fluxo de turistas. O IG foi concedido em dezembro de 2020, na modalidade de Indicação de Procedência (IP), reconhecimento de que o produto está associado a aspectos culturais, históricos e humanos do local.
A precursora foi a Bala de Banana Antonina, fundada em 1979 por uma família de Santa Catarina que se mudou para o Litoral, e que é mais conhecida pela sua embalagem predominantemente verde.
Em 1986, um empreendedor gaúcho criou na cidade a marca Pilar, em uma referência à capela da Virgem do Pilar, erguida na região no início do século 18. Anos depois, porém, a bala foi rebatizada de Bananina, uma junção entre produto e cidade de origem, nome ao qual ficou mais associada, assim como a sua embalagem laranja.
Antes das caraterísticas embalagens, porém, as balas eram comercializadas sem qualquer identificação própria em bancas instaladas na descida da Serra do Mar tanto na BR-277 quanto na Estrada da Graciosa, o que potencializou a sua fama entre os motoristas e suas famílias que lotavam as estradas, sobretudo na temporada de verão.
NEGÓCIO EM EXPANSÃO – Rafaela Takasaki Corrêa, de 39 anos, é diretora executiva da Bala de Banana Antonina. Responsável por gerenciar o negócio familiar, que está em sua terceira geração, ela conta que acompanha há décadas o crescimento e a modernização da empresa, mas que nunca perdeu a essência original do produto.
Atualmente, a bala de banana de Antonina está presente em diversos estabelecimentos comerciais que não se limitam apenas à cidade. Além das vendas no atacado, para abastecer outros comércios, a empresa começou a fazer vendas diretas ao cliente final via e-commerce e em uma loja própria aberta na cidade.
A empresa comandada por Rafaela emprega 20 pessoas diretamente e mais oito indiretamente, além de beneficiar 50 famílias de produtores rurais que fornecem de 120 a 150 toneladas de banana-caturra ou nanica por mês. A estrutura envolvida resulta em uma produção diária de aproximadamente 800 quilos de bala, com expectativa de aumentar de 30% a 40% este volume já em 2024.
Além da banana, as pinturas e estampas destacam personagens clássicos do Litoral do Paraná e da identidade caiçara, como pescadores, produtores rurais e os animais que vivem na Mata Atlântica. “A ideia é que as pessoas não apenas comprem a bala de banana, que é comercializada em outros lugares, mas instigar as pessoas a virem conhecer a Capital da Bala de Banana e prestigiar os outros atrativos de Antonina”, explica.
Para Bárbara Krenk, empresária à frente da Bananina, o sentimento é de orgulho pelo seu negócio ser o símbolo de toda uma região do Estado. “Sabemos que com a obtenção do selo de Indicação Geográfica faz com que o produto seja reconhecido como legítimo de Antonina e abre portas para a comercialização em vários cantos do País”, destaca. “É uma forma de aproveitarmos novas oportunidades e desbravarmos novos mercados”.
IMPACTO AOS PRODUTORES – Se para os empresários que atuam em Antonina a bala de banana é uma oportunidade de negócio cada vez mais rentável, para os produtores que fornecem a matéria-prima principal ela é a garantia de sustento. Atualmente, apenas uma das duas empresas adquire as bananas de 30 a 50 produtores mensalmente.
Com poucas exceções, a produção é originada majoritariamente de pequenas propriedades familiares localizadas na área rural de Guaraqueçaba, o que demonstra o impacto mais abrangente do produto no Litoral do Paraná. Uma das características para a obtenção do selo de Indicação Geográfica é o uso de insumos regionais.
As fábricas custeiam os caminhões responsáveis por fazer o transporte das bananas do campo até as fábricas em Antonina, em uma relação benéfica para ambos os lados da operação.
Um desses produtores é Silvio de Oliveira. Há nove anos, ele deixou para trás a rotina como trabalhador da construção civil em São José dos Pinhais para viver da produção de banana em Guaraqueçaba. “Eu fui ficando mais velho e já não queria viver no ritmo mais corrido da cidade, então visitei essa chácara, gostei e comprei a propriedade”, conta. “O antigo proprietário já fornecia as bananas para produção da bala, então nós demos continuidade e aumentamos o plantio”.
A produção de Silvio, que trabalha em conjunto com o irmão, Antônio, varia entre 3 e 5 toneladas de banana ao mês a depender da estação do ano e das condições meteorológicas. O volume é enviado exclusivamente para a produção da bala, cuja renda gerada é suficiente para garantir as necessidades financeiras dos dois irmãos e de suas respectivas famílias.
NOVAS RECEITAS – Mais do que um objetivo alcançado, a Indicação Geográfica para a Bala de Banana de Antonina significou um estreitamento dos laços do produto com a cidade e a população local. O primeiro passo foi dado em um evento organizado pelas duas fábricas certificadas com o apoio do Sebrae/PR, que aconteceu no tradicional Theatro Municipal de Antonina em novembro de 2022 e teve a participação de moradores, lideranças e empresários antoninenses.
Uma das principais responsáveis por sensibilizar os convidados foi a chefe de cozinha Karla Manfredini, que a convite do Sebrae elaborou o coquetel com receitas que envolviam a bala de banana. Ela conta que fez dez pratos diferentes para degustação dos convidados, o que causou uma boa impressão e despertou o interesse de alguns empreendedores da cidade para o potencial comercial do produto de outras maneiras.
A partir de então, surgiram receitas como o chineque e sonho recheados com caramelo feito com a bala, um molho que também leva o produto em sua mistura para ser usado em hambúrguer, uma torta de requeijão com calda e até mesmo uma espuma usada na finalização de drinks.
Atualmente, elas já estão presentes em algumas padarias, lanchonetes e hospedagens da cidade, mas a intenção da chefe de cozinha é de que os produtos possam ser encontrados em todos os lugares de Antonina.
Ao citar o exemplo do queijo da Serra da Canastra, de Minas Gerais, um produto com Indicação Geográfica que já está mais consolidado, Karla argumenta que o reconhecimento nacional tem o poder de transformar a realidade local.
EMPREENDEDORES LOCAIS – A primeira a acreditar na proposta foi Francelis Pereira Maurício, proprietária do Hotel Capelista. O nome do estabelecimento que ela comanda, fundado em 1968, é uma referência à cidade, inspirado em uma forma alternativa pela qual os moradores da área central da cidade eram chamados devido à região ser conhecida como Capela em seus primórdios.
Como viria a acontecer depois com os demais estabelecimentos, o produto foi batizado em homenagem ao hotel e, por consequência, à própria cidade: Bolinho Capelista. Trata-se de um bolinho feito com farinha de trigo e banana, com calda feita de uma das balas da cidade e recheada com a outra. No preparo da calda do doce, também é acrescentado um toque de cachaça de banana, outro produto tradicional da região.
Grandes vitrines para as balas de banana e todos os produtos que dela derivam, os eventos que acontecem na cidade atraem milhares de turistas. Os mais conhecidos são o Carnaval, considerado um dos mais tradicionais do Estado, e o Festival de Inverno promovido da Universidade Federal do Paraná, sediado na cidade há 33 anos.
Mais recentemente, porém, o município tem atraído novos eventos e, por consequência, novos perfis de turistas. É o caso do Encontro Paranaense de Veículos Antigos e Especiais ocorrido em junho deste ano, e do Antonina Blues Festival, evento de música que teve a sua 7ª edição justamente neste feriado de Nossa Senhora Aparecida, entre os dias 12 e 15 de outubro.
SOBRE A SÉRIE –Os 12 produtos com Indicação Geográfica fazem do Paraná o terceiro estado com mais certificados no Brasil, atrás apenas de Minas Gerais (16) e Rio Grande do Sul (13). O reconhecimento começou a ser concedido no País há duas décadas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e serve para atestar a reputação e valor diferenciado de produtos e serviços que são caracterizados pelo seu local de origem, garantido a eles uma identidade própria.
Além do doce de banana da Antonina, os outros produtos paranaenses que obtiveram a IG até o momento são uva de Marialva, barreado do Litoral, melaço de Capanema, goiaba de Carlópolis, queijo de Witmarsum, café do Norte Pioneiro, mel da região Oeste , mel de Ortigueira, erva-mate de São Mateus do Sul, morangos do Norte Pioneiro e vinhos de Bituruna.
O trabalho para obtenção dos registros é feito pelas associações, sindicatos ou cooperativas que representam os produtores e empreendedores regionais. Todos os produtos apresentam uma qualidade única, fruto da combinação proporcionada pela disponibilidade de recursos naturais, como solo, vegetação e clima, e pelos processos específicos utilizados na sua produção.